Talvez a morte seja a eternidade Uma surda revolta contra o tempo Um corte na avalanche dos segundos Um jeito de evitar a próxima aurora Resolver de vez a espiral do futuro Evitar a dor da espera e o desespero Talvez a morte seja a soma do presente Como um iceberg visto à distância Perfeito, em sua alegoria imóvel Posto ao largo pelo vasto continente Que se basta, como um tigre à sombra Depois de devorar todos os rebanhos Somos alimentados pelos minutos Como velhos confinados em fazendas A sorver a sopa servida com descaso Mas temos apenas esse prato de espuma Para enfrentar o fim do mundo previsível O frio que vem do cosmo, a idade hostil Um dragão na sesta, isso é a eternidade Coleção estéril, savana de miragens Caçadores confinados longe na floresta Jipes sem serventia apodrecendo ao sol Rifles de repetição enterrados nas raízes E fotos de safaris em ninhadas de abutres Talvez a morte seja o fim desses eventos Que é a vida ressecando o próprio seio E a eternidade, uma festa de surpresas Perfil extremo de um Deus sob o sereno Aquela estátua de Deus que nos aguarda No sopro da varanda em tetos de silêncio Nota do Editor: Nei Duclós é autor de três livros de poesia: "Outubro" (1975), "No meio da rua" (1979) e "No mar, Veremos" (2001); de um romance: "Universo Baldio" (2004); e de um livro de conto e crônicas: "O Refúgio do Príncipe - Histórias Sopradas pelo Vento" (2006). Jornalista desde 1970 e formado em História.
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