| Divulgação |  | | | Pé de abacaxi. |
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Neste mês, dois casais na região sul de Ubatuba estão sendo parabenizadas pelos anos de casamento, e daí? Bom, é que sem querer depois de 20 anos seus caminhos se cruzaram. No dia 14 de janeiro de 1989, no Sertão da Quina, casavam Rose e Orlando Manuel, e como todas as festas de casamento não poderia faltar o bolo. Dentre os preparativos envolvendo quase toda da família o bolo doce foi o mais trabalhoso, foram feitas 100 massas de bolo e recheados com abacaxi, plantados e colhidos no próprio bairro. Já o outro casal cortava o bolo doce há 54 anos, eram eles Antonio Fernandes da Silva (75) e Clarice da Silva Fernandes (72) que tiveram nove filhos e viviam totalmente da agricultura familiar, dentre as culturas plantavam o abacaxi, daqueles que rechearam o bolo do Orlando e da Rose trinta e quatro anos depois. Naquele dia foram adquiridos 100 (cem unidades) que vieram de carrinho de mão morro abaixo, cerca de dois quilômetros por um acesso estreito que levava até a Pedra Preta, nas grandes roças, locais conhecidos como Morro da Onça e Taquari. Na propriedade do "Seu Antonio" sempre houve cerca de pelo menos 5000 (cinco mil) pés de abacaxi plantados, sem contar o mandiocal, o bananal, o canavial, o laranjal, o cafezal, as hortaliças, as plantas medicinais etc. Depois que a Promotoria Pública do Meio Ambiente retirou a energia elétrica de sua residência em 2006 muita coisa mudou, acabou aquela alegria familiar costumeira, onde os filhos mais velhos Maria de Jesus, Vicentina Fernandes e José Fernandes da Silva eram os responsáveis pela manutenção da roça e os mais novos ora brincavam, ora trabalhavam de fato. José Fernandes foi o filho que mais se abalou com a retirada da energia elétrica da residência. Sua mãe esperou mais de meio século para ter uma geladeira e quando conseguiu teve seu sonho amputado sem dó nem piedade. José Fernandes o homem mais velho era o braço mais atuante na manutenção da roça e da casa, hoje encontra-se triste, muito triste. A própria Promotoria do Meio Ambiente declarou em documento de audiência de que o responsável pelo Parque Estadual da Serra do Mar (que faltou na audiência) regularizasse a situação daquela família. A comunidade aguarda, mas até quando? Será que teremos que fazer um bolo de aniversário pela morosidade causada pelos "ambientalóides verdolengos" que muitas vezes pregam o "ecobesteiról" utilizando-se de "pessoas biodesagradáveis" para criar um clima de famílias bandidas, criminosas e sem direito a nada, como tantas outras que conhecemos em Ubatuba? Seu Antonio ainda lembra de que o compadre Manoel Gaspar, 75 (pai do Orlando), pagou alguns "Contos de Réis" pela encomenda. Já Manoel Gaspar que trabalhou no morro expressa seu desapontamento tamanho à covardia ocorrida. Para Pedro Félix dos Santos, 75, também compadre e que trabalhou no morro reclama dos direitos iguais, "pena que os direitos iguais são mais iguais para uns do que para outros, parece que depende de quanto$ verde$ cada um possui", conclui indignado. Mesmo adoentada com a geladeira apodrecendo, vivendo ainda no escuro, tomando banho de água fria, com medo de ser maltratada novamente, por vezes dá para sentir um lindo e gostoso sorriso, daqueles autênticos e sinceros na face sofrida de Dona Clarice. A população espera não precisar colher abacaxi para o bolo de falecimento daquela família ainda no escuro, séculos após a descoberta da energia elétrica e a lâmpada.
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