Com um aéreo nos segundos finais, o surfista Pablo Paulino venceu no sábado (dia 2), na praia da Joaquina, em Florianópolis (SC), a etapa inicial do Billabong Pro Júnior, campeonato que define o time para o Mundial Profissional para surfistas com até 20 anos de idade, na Austrália. Numa final com ondas tubulares de 2 metros e sol, Pablo acreditou até o final para virar o jogo sobre o atual campeão mundial da categoria, Adriano de Souza, o Mineirinho.

Precisava de 7,2 pontos para vencer e faltando menos de 30 segundos arrancou 8,23 pontos, com um aéreo 360 graus, a manobra mais radical do surf moderno - quando o surfista voa e dá um giro completo no ar. A comemoração começou ainda no final da onda e foi complementada na areia, quando foi carregado nos ombros pelos outros competidores, que festejaram muito a sua 1ª conquista profissional. Com a vitória, embolsou US$ 1,8 mil e 1.000 pontos no ranking sul-americano da Association of Surfing Professionals (ASP), entidade que comanda o surf profissional no Mundo.

"Acreditei até a última onda. Os aéreos estavam no pé. A estratégia foi esperar. Como já tinha uma onda 9 pontos, sabia que podia vencer", afirmou o vencedor, que disse ter sua conquista valorizada pelo campeão mundial. "Ele é um excelente competidor, surfa muito", comentou o surfista nascido em Santos, criado em Fortaleza (onde iniciou no surf) e há três anos morando no Rio.

Ele aprendeu a surfar na Favela do Titanzinho, em Fortaleza, reduto de grandes nomes do surf, como Tita Tavares e Fábio Silva. No começo, aos sete anos, pegava ondas com um pedaço de madeira, depois com metade de uma prancha velha e só teve um equipamento perfeito aos nove anos, comprado por Tita. "Foi ela quem me ajudou desde o começo. Sempre me incentivou. Na verdade me criou. Morei na casa dela. Minha mãe mora até hoje. Sou muito grato a ela", disse Pablo.

Atualmente, ele mora no Rio, na casa do surfista criado pelo shaper Thiago Cunha. "Ele foi como um pai", ressaltou o atleta, que foi semifinalista ano passado do Mundial Amador Júnior na África do Sul, e está classificado para a edição deste ano no Tahiti. "Se Deus quiser, vou para o Pro Júnior também", ratificou o vencedor, eleito pelos próprios surfistas da categoria como o melhor de 2004, numa votação feita pela revista especializada Hardcore.

Neste ano ele vai surfar pela 1ª vez no Havaí, na seqüência vai para o Tahiti, para disputar novamente o Mundial Amador Júnior. "Espero ir para a Austrália logo depois. Estou começando minha carreira profissional e quero muito me dar bem", adiantou.

O campeão mundial Adriano de Souza, que liderou praticamente toda a bateria final, também comemorou o resultado de Pablo e em momento algum lamentou ter perdido a vitória nos últimos segundos. "A bateria acaba no toque da buzina. A onda era dele, o dia, o momento dele. Fiquei muito feliz e só lamento que ele não esteja, ainda, no Circuito Mundial. Poderia estar comigo. Sinto falta da minha geração competindo ao meu lado lá fora. Tomara que essa vitória sirva de incentivo para que ele possa ir para o WQS", afirmou Mineirinho.

Quem também foi um grande destaque na competição foi Eduardo Rolins, que se firmou como um grande tube rider. O surfista de 16 anos foi o dono dos melhores desempenhos, com tubos excelentes. Na semifinal, garantiu uma nota 10, faturando um prêmio extra de 200 dólares, na Kyw Surf Best Wave. Na mesma bateria, somou 19,73 pontos de 20 possíveis.

"Sempre busquei me dar bem num campeonato e agora consigo justamente aqui no Billabong, uma disputa tão importante. Espero que minha carreira agora deslanche", disse o surfista, que aos nove anos se mudou do Rio de Janeiro para Saquarema, justamente para treinar tubos, incentivado pelo pai, Rosenval, sempre presente nos eventos, filmando todas as ondas. "Acho que a mudança valeu a pena", complementou o surfista, que depois de uma semifinal eletrizante, tentou repetir o feito na decisão, sempre arriscando nos tubos, mas não teve o mesmo desempenho.

A disputa final teve 30 minutos e logo aos 5, Mineirinho passou a liderar, com uma onda 8,33 pontos e na seqüência um 5. Pablo radicalizou e tirou um 9, indo para a vice-liderança. Faltando 12 minutos, o campeão mundial aumentou a diferença com um 7,5 e parecia ter ratificado a vitória com um 7,87 pontos, aos 27 minutos. Mas nos segundos finais, Pablo virou o jogo com o aéreo.

No resultado final, Pablo somou 17,23 pontos de 20 possíveis. Mineirinho veio logo atrás, com 16,20, seguido de Eduardo Rolins, com 11,83 e Rodrigo "Sininho" Tavares, um dos surfistas mais radicais da nova geração, com 11,67. Outro destaque foi a Vonzipper Air Show, uma bateria especial onde o aéreo era o determinante. O paulista de Ubatuba, Hizunomê Bettero, foi o melhor, com um aéreo 360 graus, faturando R$ 800,00.

O Billabong Pro Júnior terá mais uma etapa, nos dias 26, 27 e 28 de novembro, no litoral norte de São Paulo. Os seis melhores do ranking estarão classificados para o Mundial Profissional Sub 20, no início de janeiro, na Austrália. Vale destacar que o atual campeão, Adriano de Souza, o Mineirinho, já está confirmando no Mundial, aumentando para sete surfistas a participação brasileira.

Criado em 1998, o Mundial tem como objetivo estabelecer uma estrutura para os novos talentos, preparando para o início da carreira no Circuito Mundial, o WQS e, posteriormente, a divisão principal, o WCT. Uma mentalidade voltada para o planejamento da carreira e uma oportunidade de crescer em nível técnico e até físico. Isto porque cada vez mais cedo os surfistas estão deixando de ser amadores.

Com uma fórmula diferenciada, o campeonato tem seletivas continentais para definir os times que disputam o WCT da nova geração. Na América do Sul são duas etapas, ambas no Brasil, com o Billabong Pro Júnior que está em sua 7ª edição. A mesma disputa é realizada nos sete escritórios da ASP, garantindo assim 42 surfistas, que se juntarão a seis convidados.

A fórmula deu certo. O sucesso é confirmado com os donos dos títulos. O 1º campeão pro júnior foi o havaiano Andy Irons, hoje bicampeão mundial do WCT e líder isolado este ano. No início desta temporada o dono do 5º título mundial foi o paulista Adriano de Souza, maior fenômeno do surf brasileiro nos últimos anos.

Outros exemplos de que o caminho pelo pró júnior facilita a carreira dos atletas são os atletas que formaram a 1ª equipe sul-americana no Mundial em 98. Dos seis classificados, três deles, o pernambucano Paulo Moura, o potiguar Marcelo Nunes e o fluminense Raoni Monteiro, estão no WCT, além do também carioca Yuri Sodré, que já participou da elite mundial. Até agora, foram realizadas cinco mundiais e o Brasil confirma ser uma das potências mundiais da modalidade, com dois títulos conquistados (também levou em 2000, com o fluminense Pedro Henrique).

O Billabong Pro Júnior 2004 tem apresentação da Marco Polo Têxtil, com o patrocínio da Goofy e Von Zipper. Apoio: Fluir, Waves, Kyw Surf, Sthill, Jeimon’s Surf & Skate Shop, J’Bay Surf Shop, Carioca Confecções, Nivana Turismo, Kdoc, ASP South America e Abrasp. A etapa catarinense teve a colaboração da Fecasurf, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Associação de Surf da Joaquina, Rádio Atlântida e deolhonomar.com.br.

Resultados Finais do Billabong Pro Júnior Florianópolis

01 - Pablo Paulino - Santos/SP (Rio de Janeiro/RJ) - 1.000 pontos - US$ 1,8 mil
02 - Adriano "Mineirinho" de Souza - Guarujá/SP - 860 pontos - US$ 1 mil
03 - Eduardo Rolins - Rio de Janeiro (Saquarema/RJ) - 730 pontos - US$700
04 - Rodrigo "Sininho" Tavares - Santos/SP - 670 pontos - US$ 500
05 - Willian Cardoso - Balneário Camboriú/SC - 610 pontos - US$ 300
05 - Jean da Silva - São Francisco do Sul/SC - 610 pontos - US$ 300
07 - Eric de Souza - Rio de Janeiro/RJ - 555 pontos - US$ 200
07 - Diego Santos - Ubatuba/SP - 555 pontos - US$ 200
09 - Leandro Bastos - Rio de Janeiro/RJ - 500 pontos
09 - Robson Santos - São Sebastião/SP - 500 pontos
09 - Simão Romão - Rio de Janeiro/RJ - 500 pontos
09 - Denis Tihara - Ilhéus/BA - 500 pontos
13 - Hizunomê Bettero - Ubatuba/SP - 450 pontos
13 - Amani Valentin - Ilha do Mel/PR (Florianópolis/SC) - 450 pontos
13 - Jefferson Silva - Bertioga/SP - 450 pontos
13 - Júnior Faria - Guarujá/SP - 450 pontos
17 - Jorge Spanner - Rio de Janeiro/RJ - 400 pontos
17 - Martins Bernardo - Fortaleza/CE (Rio de Janeiro/RJ) - 400 pontos
17 - Roberto Dia - Rio de Janeiro/RJ - 400 pontos
17 - Heitor Pereira - Guarujá/SP - 400 pontos
17 - Denis Machado - Torres/RS - 400 pontos
17 - Felipe Martins - Fortaleza/CE (Guarujá/SP) - 400 pontos
17 - Felipe Teixeira - Florianópolis/SC - 400 pontos
17 - Ricardo "Riquinho" Wendhausen - Florianópolis/SC - 400 pontos

Vonzipper Air Show - Hizunomê Bettero - Aéreo 360 Graus

Kyw Surf Best Wave - Eduardo Rolins - Nota 10