Atribui-se a Pitágoras, matemático, astrônomo, filósofo e possível contemporâneo de Buda e Confúcio, a fundação da primeira universidade do mundo, a Escola Pitagórica. Estamos há milênios envolvidos com o processo de educar e temos uma crença instintiva de que o conhecimento é muito mais dificilmente atingido em caminhadas solitárias, pois a educação se faz em grupo e com orientador. Em épocas mais remotas, o mestre acompanhava seus alunos por muitos e muitos anos. Ofícios e artes eram aprendidos por um longo tempo, com o aprendiz muitas vezes vivendo na casa daquele que o ensinava, ou pelo menos sob sua tutela. A educação era, portanto, um processo global, em que a profissão e o caráter eram moldados no mesmo cadinho. A época escolar, em suas várias fases, corresponde normalmente - e não por coincidência - aos estágios de amadurecimento do cérebro do jovem, assim como aos períodos de maiores mudanças físicas e emocionais que influenciarão substancialmente sua vida adulta e a maturidade. Hoje em dia, porém, é difícil os professores acompanharem essas transformações por mais de um ano, ao contrário dos pais, que assistem de posição privilegiada esses acontecimentos durante toda uma vida e, portanto, têm - ou deveriam ter - uma visão mais completa da formação da pessoa. Apesar disso, os docentes têm a oportunidade de conviver com esses seres em formação num ambiente mais independente do ponto de vista intelectual, de menos submissão forçada e com a facilidade da autoridade advinda da admiração e do respeito cultural. Exceto em um ou outro caso - tanto por parte do aluno quanto do professor - esta tem sido a norma no ambiente educacional. Por esse fato, tem sido o professor que, em períodos mais curtos de convivência, vem assistindo aos grandes momentos de conquista e sofrimento dos jovens, em parte pela timidez diante dos pais e, em outra, pela consideração intelectual ao professor. Mas mesmo diante desse atual formato de educação, que distancia alunos e professores, há um grupo que resiste e mantém, em partes, a tradição holística da escola grega, que valoriza a tradição de se pensar o ensino-aprendizado como uma formação global, racional e emocional. Esse grupo é formado por um contingente de discentes egressos das pequenas comunidades, cuja procedência identifica, normalmente, um aluno mais afeito às relações sociais e afetivas, tanto com o núcleo familiar quanto com seus professores. O estudante das cidades menores tende a reforçar, de certa forma, o percurso milenar da profissionalização, que consiste no caminho do esforço, da admiração e do desejo de se refazer o caminho do mestre, que sinaliza o trajeto. Como consequência dessa retomada, é visível a imensa procura pelo ensino superior tanto nas cidades menores quanto nas regiões metropolitanas dos grandes centros, o que é comemorado de forma geral pelos educadores, pois possibilita ao jovem interferir decisivamente em sua cidade, na qual ainda conhece seus cidadãos pelo nome e afazer. Diante dessa tendência, ao mesmo tempo nova e já conhecida por nós, cabe ao educador ser mais do que um professor, mas também um psicólogo, um filósofo e alguém que entenda das estrelas... Um astrônomo como Pitágoras? Nota do Editor: Wanda Camargo é presidente da Comissão Central do Processo Seletivo da UniBrasil (Faculdades Integradas do Brasil).
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