É fato que a grande maioria das previsões para os próximos meses não são otimistas. Economistas e administradores não conseguem concordar sobre os resultados que podem ser esperados a longo prazo, ao mesmo tempo em que as notícias sobre altas taxas de desemprego assustam o consumidor final. O cenário de incertezas sobre investimentos é agravado ainda mais pela já largamente comentada crise de confiança e falta de crédito. Porém, nem tão obscuro tem de ser o futuro. Visualizar as oportunidades de investimentos criadas pela crise pode ser uma boa maneira de se adaptar à nova realidade. O momento incerto não é o ideal para a construção de premissas ou previsões. Justamente por ser incerto, pela névoa que se coloca diante do futuro, qualquer tentativa pode tornar-se frustrada. O crédito limitado também contribui para a impossibilidade de se antever um futuro próspero. A única certeza que podemos ter é a de que investimentos atrelados a aumento de capacidade e volume de vendas são os mais arriscados e, neste momento, os menos indicados. As reais oportunidades se concentrarão em investimentos que tiverem retorno rápido, com redução de custos e baixo nível de incertezas. Não é hora de apostar em mistérios. Na decisão por um investimento, devem ser considerados, de forma significativa, a Unidade de Negócios envolvida, o motivo do investimento, o valor envolvido e o resultado dos indicadores financeiros. Se após estas considerações o resultado for positivo, pode estar aí uma boa oportunidade de investimento mesmo em plena crise. Atualmente, temos pelo menos três grandes exemplos de bons negócios gerados pela crise. A fusão do Itaú com o Unibanco, por exemplo, exatamente no momento mais imprevisível da crise, talvez seja o melhor deles. O Itaú, enxergou a oportunidade de aumento de seu market share e de ganho de escala, e foi formado o maior banco do País. A negociação, arrastada durante 15 meses, poderia não ter se consolidado caso os dirigentes das duas instituições tivessem se prendido ao cenário negativo vigente. Ao invés disso, eles focaram suas atenções na oportunidade. O segundo bom exemplo foi a oportunidade levantada para o setor de terceirização de serviços. Para a empresa que contrata, a oportunidade gira em torno da redução de custos e da possibilidade de foco integral em seu negócio. Ao transferir para uma empresa parceira a responsabilidade pela execução de determinadas atividades, os gestores podem concentrar seus esforços no planejamento estratégico da empresa e no aumento da produtividade. Com esta visão, a Unilever e a IBM continuam com os investimentos para a terceirização de processos não relacionados. Para a Unilever, além da oportunidade de se obter serviços técnicos especializados, de reduzir custo devido a maior produtividade na execução de certas atividades, abriu-se a possibilidade de maior concentração de esforços na busca por estratégias de ação para o aumento das vendas. Outra boa oportunidade é o investimento em reestruturação da empresa como ferramenta para aumento da produtividade. Neste caso, vale lembrar que nem sempre a reestruturação implica em ampliação da estrutura. Às vezes, readequação à demanda atual já implica em redução de custo com aumento da produtividade, os grandes objetivos da reestruturação. Assim fez a rede varejista Magazine Luiza, ao rever seu plano de expansão e optar pela redução do número de lojas inauguradas. Com a reconfiguração e reorganização dos processos internos, unidas à automação e terceirização de serviços, é possível, sim, registrar ganhos de escala e de produtividade em tempos de crise. É preciso avaliar a estrutura interna e identificar as oportunidades existentes. (Este assunto foi tema de minha palestra no evento da IBM Tivoli.) Nota do Editor: Nelson Martinez é diretor de administração e finanças da AZ4 Group.
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