Se você acompanha algum tipo de noticiário, qualquer um, deve estar alarmado com a magnitude da crise que se abateu sobre o mundo. A pergunta que vale um milhão é: como instituições orientadas para os resultados, que avaliam nos mínimos detalhes oportunidades, tendências, mercados e clientes, puderam cometer tantos erros que, somados, custaram aos investidores no mundo todo algo perto de US$ 50 trilhões até o momento? O que falhou?

Vivemos, talvez, os momentos finais da "Era dos Resultados", uma era onde os sucessos e os fracassos vinham sendo medidos por estatísticas fáceis, que procuravam vender o sucesso por meio de gráficos sempre crescentes de cotações, faturamentos, vendas e quantidades de clientes, ligações, contatos e interesses. Essa visão condenou para debaixo do tapete aqueles números mais incômodos, que mereciam urgentemente análise séria, reflexão e novas atitudes.

Mas se você acha que a "Era dos Resultados" limitou-se aos bancos e empresas de investimento, é importante que você saiba que ela contagiou, em muitos sentidos, vários outros segmentos sociais, inclusive a Educação. Até hoje, seguimos olhando dados sobre a Educação da mesma forma como os investidores veem as cotações de ações: crescimento do número de escolas, crescimento do número de alunos, crescimento do número de professores, crescimento do número de disciplinas oferecidas, crescimento do número de livros distribuídos ou de kits escolares com mochilas, cadernos, livros, lápis, caneta e latas de leite.

No entanto, ainda que tudo isso seja importante, a história econômica recente já nos mostrou que esse tipo de estatística pode esconder fracassos onde é impossível aceitar fracassos, ou seja, no desempenho dos estudantes brasileiros. Talvez não exista indicador mais importante na Educação do que aquele que nos informa a quantidade de alunos que realmente aprendem o que deviam aprender no ensino fundamental, um dado que, no Brasil, não supera os 30% em praticamente nenhuma região do País.

O que isto significa? Que a cada R$ 1.000,00 investidos em Educação pelas Secretarias de Educação dos municípios brasileiros, nada menos do que 70% ou R$ 700,00 são desperdiçados, pois os alunos, simplesmente, não estão aprendendo. Pense em empresas como Petrobras, Itaú, CSN, Vale, Bradesco e Votorantim, entre muitas outras, e tente compreender o que aconteceria com a maioria delas se perdessem, ano a ano, 70% de tudo o que investem?

A "Era dos Resultados", que nos levou a um desastre econômico provavelmente sem precedentes na história do mundo, precisa ser seguida por uma era onde a qualidade dos indicadores seja o viés mais importante. Se o objetivo do Ensino Fundamental, público ou privado, é preparar os estudantes para a vida, é isto o que tem que ser avaliado.

Compreender a efetividade dos investimentos em Educação é o primeiro passo para percebermos que melhorar os indicadores de aprendizado exige um novo pensar. Se há algo de bom que pode advir desta crise, isso certamente será o fato de que devemos mudar o modo como encaramos os "resultados" de tudo o que fazemos.

E podíamos começar, desde já, pela Educação.

Nota do Editor: Ben Sangari é Presidente da Sangari Brasil (www.sangari.com) e do Instituto Sangari.