A maioria dos pequenos e médios varejistas brasileiros desconhece a extensão e a cultura do assunto “prevenção de perdas”, e acaba confundindo o tema, com o ato de fazer balanço de estoque. Atualmente, estima-se que problemas envolvendo falhas de estocagem, vencimento de produtos, quebra de embalagens, furtos e danos que comprometem a venda do produto, podem representar de 3 a 10% sobre a receita líquida dos varejistas brasileiros. Considerando que o lucro médio dos varejistas no setor bate os 3,5% sobre as receitas brutas, é possível ponderar que se perde o equivalente ao que se lucra. Essa é a verdadeira razão de fazer investimentos em prevenção de perdas. Nos EUA, onde essa cultura é arraigada e cujos varejistas estão tecnologicamente mais avançados, os prejuízos chegam a US$ 40 bilhões por ano. Grande parte dos pequenos e médios varejistas prefere implantar medidas menos eficazes e desmotivadoras, para a redução das despesas totais, tais como: cortar cafezinhos e benefícios dos colaboradores, adotar papel higiênico de qualidade inferior e saturar o mecanismo de troca dos materiais de almoxarifado – que respondem, em média, por menos de 5% dos gastos totais. Para iniciar um processo de prevenção de perdas é necessário primeiramente introduzir o conceito de prevenção na cultura corporativa. Isso pode ser feito com palestras para todas as áreas da empresa. Em seguida, deve-se fazer um mapeamento das zonas de risco, em cada um dos principais processos empresariais, para identificar seus pontos críticos e criar rotinas, como a realização de inventários constantes com intervalos de 60 dias. Nessa atividade, se possível, o ideal é terceirizar a mão-de-obra, a fim de não criar vínculo entre a equipe de vendas e a de inventário. Após a apuração dos resultados, é necessário elencar os produtos cujas perdas somadas representem 50% do total dos prejuízos. Esses produtos serão considerados de alto risco, e por isso merecem um tratamento diferenciado entre a compra, estocagem e a venda, além de uma rotina de inventário rotativo periódico e inferior a 30 dias. Para o sucesso dessa empreitada é imperativo nomear um responsável geral por prevenção de perdas, com o objetivo de pensar e controlar diariamente as informações geradas. Outra diretriz é o uso de protocolos de recebimento de mercadorias, com prazo obrigatoriamente superior a 12 meses, ou o mais longo possível para cada categoria de produtos. Assim, o varejista minimizará perdas por vencimento, além de mostrar aos fornecedores, que está atento à validade das mercadorias. Medida eficiente também é controlar a técnica de estocagem no salão de vendas, onde o produto com data de validade mais próxima ao vencimento deve estar na frente, para ser vendido primeiro. A escolha de um responsável pela limpeza, organização e controle de validade e vencimento, em cada seção de produtos, é uma boa idéia. Ao orientar a equipe sobre como proceder com as conferências diárias dos produtos, o varejista deve ensiná-la a conferir o pedido versus nota fiscal (descontos negociados, produtos e alíquotas de impostos – ST etc.) versus as unidades fisicamente recebidas, para encontrar possíveis divergências entre o que foi negociado e o que foi entregue. Cada segmento tem produtos que costumam ser mais visados para furto, e quebra por funcionários e por supostos “clientes”. No segmento farmacêutico são os produtos de Life Style, tais como: Cialis, Viagra, Vivanza e Xenical, além dos principais anticoncepcionais e alguns produtos OTC (over the counter). No segmento alimentar o alvo são as bebidas importadas, pilhas, lâminas de barbear, carnes nobres e cremes dentais para dentes sensíveis. Para minimizar as perdas existem no mercado desde opções simples como a de guardar os produtos visados em armários de vidro, podendo chegar até a câmeras de CFTV para monitorar o comportamento suspeito dos “clientes”. O sucesso da implantação desse tipo de cultura depende também de um plano de premiação da equipe, mas não em dinheiro. A equação é simples e de fácil entendimento: ao estabelecer metas para a redução das perdas, os varejistas estarão investindo para minimizar as perdas e, por consequência, aumentar o lucro do seu negócio, numa relação custo-benefício muito mais eficaz do que qualquer ação promocional de vendas. Nota do Editor: Marco Antonio Geraigire é sócio-diretor da Geraigire Soluções para o Varejo, consultor de empresas e empresário do segmento de saúde.
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