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COLUNISTA
Nenê Velloso
18/05/2009 - 12h13
Construindo o passado III - 2
 
 

1972 - A professora Dionísia Bueno Velloso, relata a professora de História da USP, Maria Luiza Flessati, o seu 1º dia de aula e, a implantação da primeira Escola isolada Estadual de Picinguaba. Por força do Decreto-Lei Estadual nº 14.334 de 30/11/1944, data em que a Picinguaba passou a vigorar como Distrito.

A professora Dionísia (à esquerda), a professora Maria Luiza e o documento de comprovação da diplomação. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Dyonísia da Costa Ferreira, concluiu o curso primário em 15-12-1919, no Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva, diplomada com a nota 9,5. Como nascera com o dom de magistério, em 1926 se inscreveu no Departamento de Instrução Pública da Capital Bandeirante, para prestar o exame de admissão. Este Departamento, anualmente em data preestabelecida, enviava uma Junta Examinadora da Capital, até a cidade de Santos, e dali, percorria de navio a vapor, todas as cidades do litoral paulista e em cada uma, faziam a seleção dos candidatos, a bordo. A Junta Examinadora era destinada a avaliar o preparo de tais candidatos e sua aptidão intelectual, se fossem aprovados, recebiam o certificado de aprovação para dar aulas.

Os navios que faziam escalas nos portos de Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba eram os seguintes - Aspirante Nascimento, Itaipava, Mayrinque, Laguna e Oyapock e outros, todos dotados de boas acomodações. Em Ubatuba, como não tinha cais para atracação, os navios ficavam fundeados ao largo da baía da praia do Cruzeiro (Centro), ficando o transbordo dos passageiros e das mercadorias por conta das grandes canoas e batelões a remo. A candidata Dionísia, prestou seu exame de admissão a bordo do vapor Aspirante Nascimento, foi aprovada e recebeu o certificado para dar aulas.

Ingressou no magistério em 1927, tendo sido a 1ª professora a reger a recém-criada Escola Isolada Estadual de Picinguaba em Ubatuba - Litoral Norte Paulista, em substituição da titular da cadeira, a professora “Maria Eugenia Brandt Corrêa”, natural da Capital Bandeirante, que nunca veio a Ubatuba, e nunca se teve notícia dos motivos. Essa foi a primeira escola isolada do governo, em Ubatuba.

Para conseguir esta única vaga na escola, teve que agir em surdina, porque passar por cima dos políticos manda-chuvas da cidade, “os Oliveiras”, sem que desconfiassem, era praticamente missão impossível, mas, conseguiu! Apesar “dos Oliveiras” ainda estarem abalados com a prisão do tio do Seu Filhinho, o “capitão” Deolindo de Oliveira Santos, em 1916, que nessa época, era o agente do correio de Ubatuba. E, por ter interceptado o estafeta Luiz Moreira da Silva, conhecido pelo apelido de Luiz Suré, no  pé da serra de Ubatuba, que levava a mala postal para Taubaté, violando o lacre da mala postal, retirou alguns documentos. Denunciado pelo estafeta, foi preso, perdeu o emprego, teve seus direitos políticos suspenso por 8 anos até 1924, mas, em 02 de junho de 1923 exercia o cargo de suplente de juiz, quando pediu atestado de boa conduta (era de baixa escolaridade). Nessa época já começava pôr as manguinhas de fora novamente e, em 1927 atuava a todo vapor. Em considerações finas, veja as fotos do “capitão” Deolindo, documentos de comprovação da prisão, e o relado do estafeta publicado no Jornal A Semana, do dia 08-08-2003, pg. 2.

Após este episódio, acontecido há 11 anos, passou a ser voz corrente na cidade que todas as correspondências que saíam e entravam, passavam primeiro pelo bico da chaleira. Além disso, o “capitão” Deolindo, também pleiteava esta vaga na escola para a sobrinha Altair, que na época contava com apenas 17 anos de idade, sendo então, obrigada a aguardar a maioridade para candidatar-se. Mediante os fatos, a professora Dionísia viu-se obrigada a se antecipar e, nos primeiros dias janeiro de 1927, enviou o seu currículo ao Departamento de Instrução Pública da Capital Bandeirante, pelo correio da cidade de Taubaté, distante daqui uns 100 quilômetros, que só podiam ser percorridos a pé ou a cavalo.

A professora Dionísia e seu pai, Francisco Matheus da Costa Ferreira (Chico Matheus). - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Foi a cavalo, em companhia do seu pai, Francisco Matheus da Costa Ferreira (Chico Matheus) e pernoitaram na cidade de São Luiz do Paraitinga. Ela poderia ter postado a correspondência lá, mas também não confiava, porque o domínio político “dos Oliveiras” ia além fronteiras. No dia seguinte, alugaram uma charrete e seguiram viagem até Taubaté, postaram a correspondência e retornaram imediatamente. Enquanto isso, o “capitão” Deolindo, aguardava tranqüilamente a sobrinha Altair atingir a maioridade, que só aconteceria em 17 de janeiro de 1928, convicto que não havia concorrente, devido o controle de a cidade estar em suas mãos.

No final de fevereiro de 1927, portanto um mês depois de ter se candidatado para ocupar esta única vaga de professora na recém-criada escola isolada de Picinguaba, foi convocada pelo diretor Orlando Simonetti e amigo da família, a comparecer no Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva. Lá chegando, para sua surpresa, estava presente, sentado ao lado do diretor, o “capitão” Deolindo de Oliveira Santos, que nessa época ocupava o cargo de suplente de Juiz de Direito. O diretor, então, se dirigiu à professora dando-lhe os parabéns pela tão sonhada conquista:

- A senhorita foi nomeada para reger a escola isolada da Picinguaba. - Estupidamente, o “capitão” Deolindo interferiu na conversa e, nitidamente nervoso, disse:

- Não era isso que você queria? Você conseguiu! A escola da Picinguaba é sua, pode tomar posse. - Jogou com violência em cima da mesa do diretor, o Diário Oficial, que noticiava nomeação da professora, espalhando documentos pelo chão. Em seguida, retirou-se resmungando.

O diretor Orlando Simonetti, de olhos pasmos, nada entendia, então, a professora Dionísia esclareceu-lhe o porquê do descontentamento do “capitão” Deolindo.

- Então, foi um golpe de mestre. - disse Simonetti após uma bela gargalhada no estilo italiano.

E, em 09/03/1927, Dyonísia da Costa Ferreira tomou posse, e deu o seu primeiro dia de aula.

A professora Dionísia pagou um preço alto por essa façanha, enfrentou uma perseguição implacável durante os 8 anos em que lecionou na roça, sendo 4 anos na Picinguaba e 4 anos no Ubatumirim. Uma vez por mês a professora Dionísia vinha à cidade para receber o pagamento, e por centenas de vezes essa era a resposta que recebia:

- O dinheiro ainda não chegou, volte na próxima semana, quem sabe?!

O pagamento era feito através da Coletoria Estadual e o coletor era o “coronel” Ernesto Gomes de Oliveira, irmão do “capitão” Deolindo de Oliveira Santos. Esta perseguição se estendeu até ao Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva. A professora Dionísia nunca foi convidada nem para substituir uma professora doente, porque sempre tinha um membro da família ou um amigo no “comando”.

[Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado III.]


Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.
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