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COLUNISTA
Nenê Velloso
27/05/2009 - 10h34
Construindo o passado III - 3
 
 
O caminho a percorrer por terra – da cidade até a escola

O caminho era uma picada de nove léguas a ser percorrida a pé, mais ou menos em 14 horas, atravessando rios, várzeas alagadiças, mangues, brejos, morros e praias que eram as seguintes: iniciando pelo Perequê-Açú, atravessando o Morro do Alegre e descendo na praia Vermelha, pela praia ou por dentro, subindo o morro vem a praia do Alto, descendo vem o Itamambuca, caminho péssimo, por rios, lagoas, morros e várzeas, vem à praia do Félix, daí segue pela praia até o Prumirim, após o morro vem à praia do Léo, subindo mais um morro desce no Puruba, atravessando um grande rio, subindo e descendo o morro do Ubatumirim chega na praia da Justa e praia do Ubatumirim, nesta, tinha que atravessar uma barra perigosa, a do Morais, onde havia uma venda e uma população, que fazia lavoura de mandioca, café, feijão e milho, mais voltado para o sertão do que para o mar. Depois vem a praia do Almada, e a Brava, mas se quisesse, podia passar por dentro, saindo na praia da Fazenda, aí subindo um morro íngreme, chega-se na praia do Canto, em seguida, praia do Meio e finalmente o povoado na prainha da Pinciguaba, situando-se aí a escola.

Maria Rita e filhos. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Este trajeto dificilmente era feito de uma só vez, a professora Dionísia fazia um pernoite na casa de uma família caiçara, de seu Antonio Jerônimo, próspero pescador, que vivia com a mulher Maria Rita, e um casal de filhos Fabiano e Maria, em um belo sítio de sua propriedade, localizado no canto sul da praia do Félix, com mais ou menos 100 braças de frente para o mar e fundos até o alto do morro do Félix, na cachoeira do Sobrado. Veja as fotos (acima) de Maria Rita e os filhos: Fabiano e Maria. Não temos a foto do chefe da casa, o Sr. Antonio Jerônimo, porque faleceu aos 50 anos de idade. A viúva vendeu o sítio e veio morar na cidade, arrendaram uma olaria na propriedade do Fiovo Frediani, mas não deu certo. Nem podia. Fabiano foi trabalhar de pedreiro e Maria tornou-se caseira de uma residência de veraneio, sita a rua Guarani, 286, de propriedade da tradicional família de fazendeiros da cidade de Jaú (SP), os Almeida Prado - o Sr. Sebastião Sampaio de Almeida Prado (eu conheci) -, onde era considerada como filha da casa. Maria Rita, e o casal de filhos Fabiano e Maria, já faleceram, Fabiano faleceu em fins de 2008. Todos deixaram sucessores que residem na cidade.

Por mar e terra — siga o roteiro no mapa. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Este trajeto da cidade até a Vila da Picinguaba, por mar, é de 5 léguas ou 30 km, mais ou menos, e eram percorridos em 8 horas com mar calmo, em canoa a remo, geralmente medindo mais ou menos 5,50 m de comprimento x 0,85 m de boca (largura), conduzida por dois remadores experientes, e era percorrido em duas etapas. Em trajetos longos como este, a preferência dos canoeiros era em uma canoa de cedro, por ser mais leve, segura, resistente e deslizante; essas canoas eram esculpidas em um único tronco. Partindo da Boca da Barra da cidade ou da Prainha, fazia-se uma breve parada na ilha do Prumirim, mais conhecida por Ilha do Tio Chico; tomava-se água fresca da bica, esticava-se o esqueleto, tirava-se água do joelho e seguiam em frente até o ponto final, na Picinguaba.

Esse tempo só poderia ser reduzido da seguinte maneira: traçar o rumo em linha reta, mas é muito arriscado, devido à lentidão da canoa a remo e no caso de o tempo mudar repentinamente não haveria tempo de se abrigar em uma praia ou mesmo puxar a canoa em um remanso seguro da costeira. Por isso que se vai “fardeando” a costeira, mantendo-se uma distância de 500 metros, mais ou menos, da costa. Quando tinha vento favorável, içava-se uma rústica e frágil vela de pendão ou às vezes, com muita sorte, pegava-se uma carona a reboque com os barcos de pesca.

Tipo de canoa usada naquela época. Note que a vela está enrolada no mastro. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Mas, nem sempre esse trajeto (veja no mapa) poderia ser concluído na frágil canoa. A partir da ponta dos Carneiros vêm a Ponta do Respingador; você já entra na Baía do Itamambuca, sendo ela a mais perigosa; depois a Ponta da Jamanta, Prumirim, até o início da praia do Puruba, que pertence a Baía do Ubatumirim, início de águas calmas. Este é o trecho indigesto para canoeiros e pequenas embarcações, porque dependendo do lado em que sopra o vento, formam-se vagalhões que os caiçaras chamam de cavaleiros (porque parece com o galopar de uma cavalgada). Os cavaleiros se formam em seqüência pela ação do vento, produzindo uns buracos que se abrem em desnivelamentos imensos, formando um vazio entre um cavaleiro e outro, não se enxergando nada em sua volta, além de água e céu, gerando medo e pânico até nos canoeiros mais experientes.

Em outra situação, também formada pela ação do vento, é quando sopra o vento leste, o pescador chama de lestada, provocando mar encapelado, levantando marolas repetidas que vem de todos os lados, e que se propagam sucessivamente e quebram contra a canoa. O canoeiro tem que ser muito habilidoso e rápido, direcionando a proa da canoa sempre de frente contra as marolas; nunca deixar ser atingido pelas laterais, se isso acontecer, a marola emboca (entra na canoa) e dependendo do tamanho da marola pode alagar (naufragar).

[Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado III.]


Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.
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