Ubatuba vive uma situação paradoxal. O poder Legislativo decidiu exercer sua prerrogativa de investigar as ações do Executivo e deparou-se com manobras escusas com a pretensão de impedí-lo.

Há um velho ditado que diz que quem não deve não teme. Nos ditos populares há muita sabedoria, neste caso, mais do que nunca.

A cidade sabe que o atendimento que a Santa Casa proporciona à população é precário. Há falhas que devidamente apontadas podem ser sanadas e assim melhorar as condições do hospital, legítima aspiração de moradores e turistas. Ubatuba tem uma inegável vocação para o turismo. Há muito a desfrutar nesta maravilhosa cidade. Praias, cachoeiras, trilhas, bons hotéis e ótimos restaurantes. E em compensação um hospital que assusta pela precariedade. Turistas de mais de 40 anos, com poder aquisitivo elevado, querem ter bom atendimento em caso de emergências. Sem que isso seja realidade, afastam-se da cidade. É notório o nivelamento por baixo que Ubatuba vem sentindo em relação aos freqüentadores. O que fazer em caso de enfarte se não houver socorro adequado? O que fazer em caso de derrame cerebral se não houver pronto atendimento? Um hospital bem equipado e bem aparelhado significa mais turistas e de melhor qualidade. Isso se traduz em faturamento no comércio, arrecadação na prefeitura, mais empregos e menos violência.

Foi com esse espírito que a CPI da Santa Casa foi instaurada. O que norteou a decisão foi a vontade de um grupo de vereadores de cuidar melhor da saúde da população, afinal de contas, os vereadores vivem em Ubatuba e aqui têm suas famílias. Emergências atingem a todos, são poucos que podem buscar atendimento em outros centros mais adiantados, alguns a bordo de luxuosos carros importados.

No entanto, houve uma voz discordante. O vereador José Pinto de Souza Americano se opôs à investigação. Aqui convém abrir parênteses. A administradora da Santa Casa, Mara Franhani é sócia do vereador Americano em um escritório de contabilidade.

A oposição ao processo investigativo acabou traduzida em processo cível na Justiça. Mandado de segurança contra a CPI. Por conta de detalhes técnicos na sessão que a instaurou. Agindo assim, contrariando a maioria de seus pares, o vereador Americano conseguiu a liminar que paralisou os trabalhos. Temporariamente, até que seja julgado o mérito da ação.

O que o vereador Americano teme?

O que o incomoda? Ele não quer que a população tenha bom atendimento? Mais uma vez eu reitero. Se não há irregularidades, por que não deixar que a investigação prossiga? Mais uma vez eu pergunto. Do que o vereador Americano tem medo?

A CPI será feita, ainda que o parecer da Justiça sobre a atual seja contrário. Outras sessões acontecerão na Câmara e outras CPIs poderão ser instauradas. As guerras não se restringem a uma única batalha. A Câmara Municipal de Ubatuba está em guerra por uma Santa Casa saneada e eficiente. Outras batalhas serão travadas. Que vença o povo de Ubatuba.

Nota do Editor: Ricardo Cortes é médico e presidente da Câmara Municipal de Ubatuba.