19/04/2024  11h04
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
COLUNISTA
Nenê Velloso
03/11/2009 - 08h01
Construindo o passado III - 8
 
 

O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL)

Aqui, em Ubatuba, foi implantado no prédio da ALA (Assistência ao Litoral de Anchieta), onde hoje funciona a Secretaria Municipal de Educação. Naquela época a professora Dionísia foi convidada a dar aulas para uma classe mista com 44 alunos adultos e idosos. Nos primeiros seis meses foi feita uma seleção e só seis alunos foram alfabetizados: escreviam, liam e entendiam o que tinham escrito, o restante conseguiu apenas escrever os seus nomes. A direção da ALA queria que a professora Dionísia, assinasse o certificado de aprovação incluindo os 38 reprovados. A professora foi categórica: “Eu assino o certificado somente de seis alunos, Esses eu garanto que estão alfabetizados.” E se demitiu.

O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) foi um projeto do governo brasileiro, criado pela Lei número 5.379, de 15 de dezembro de 1967, e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos. Este movimento, mantido pelo governo federal durante o regime militar, visava a instrumentalizar o cidadão e torna-lo capaz de exercer sua cidadania. No entanto, durante anos, jovens e adultos freqüentaram as aulas do MOBRAL sem atingir um nível aceitável de alfabetização ou letramento. A recessão econômica iniciada nos anos oitenta inviabilizou a continuidade do MOBRAL que demandava altos recursos para se manter. O Mobral foi extinto em 1985 e substituído pelo Projeto Educar. Seus programas foram assim incorporados pela Fundação Educar.

a) Professora Dionísia, à esquerda, ao lado da professora Maria Luiza Flessati. b) Observações de Maria Luiza Flessati. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Observações de Maria Luiza Flessati, que teve a dádiva do convívio amistoso da professora Dionísia.

São Paulo, abril de 1991. Dona Dionísia nascera com o dom do magistério, e foi, como já está acima mencionado, durante toda sua vida, uma notável e incansável alfabetizadora. Marcou uma epopéia memorável nos fastos educacionais de Ubatuba, como pioneira da alfabetização, nas então distantes plagas da Picinguaba, aonde aí chegava por caminhos tão difíceis, superando tantas adversidades que se lhe deparavam, com sua coragem e heroísmo, admiráveis na jovem criatura que era então. Dotada de vivacidade mental e física, inteligente e expressiva, tinha sempre um modo jeitoso e simpático para solucionar situações imprevistas. Em sua homenagem foi dado seu nome a um estabelecimento de ensino secundário no bairro do Perequê-Açú. Quando vou para aqueles lados e encontro alunos do ginásio, digo-lhes “Sejam sempre bons estudantes, para homenagearem a memória da grande mestra (como designavam antigamente a professora), de quem sua escola tem o nome: a Profª Dionísia Bueno Velloso”.

Dionísia Bueno Velloso faleceu em 24 de janeiro de 1973 fazendo o que ela mais gostava: alfabetizando crianças e adultos. No momento que fez este relato, em 1972, lecionava datilografia, com ótimo aproveitamento no aprendizado das pessoas.

Considerações finais

Este relato de páginas sofridas de sua vida, que a professora Dionísia fez a professora da USP - Maria Luiza Flessati -, no ano de 1972, parte dele, foi por mim completado. Muita coisa se perdeu porque nada foi anotado, relatei só o que ficou gravado na minha memória. A professora Dionísia foi castigada ao extremo. A escola de Picinguaba, que deveria levar o seu nome não aconteceu, foi dado o nome de um ex-diretor do ginásio Capitão Deolindo, Sr. Iberê, um desconhecido oriundo do Vale do Paraíba que teve uma passagem relâmpago por Ubatuba e, que não deixou bons exemplos. Veja que nada mudou até os dias de hoje, basta você discordar do mandatário, mesmo que seja por um motivo frívolo, é o suficiente para desencadear uma perseguição implacável ao longo de sua vida. Esse foi o preço que a professora Dionísia pagou pela sua integridade, e que se estendeu aos seus sucessores. O exemplo disso é a nossa imprensa escrita e falada de Ubatuba, que está muda há muitos anos, como se tudo estivesse às mil maravilhas.

Os dois alunos que mais se destacaram: Silvino Teixeira Leite e Antonio Gomes

Silvino Teixeira Leite - político, esportista, empresário e chefe de família. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Silvino Teixeira Leite era filho do líder comunitário Sr. Romualdo Teixeira Leite, enquanto a professora preparava a aula, ele fazia a chamada dos alunos, e era responsável pelo livro de atas, e ainda ajudava a professora a corrigir as tarefas. Silvino Teixeira Leite, se tornou empresário, foi prefeito por um ano, (1946 - 1947 - voto indireto), e vereador por cinco vezes.

Saiba mais, sobre esse íntegro caiçara da gema, em matéria já publicada com o título “Construindo o Passado II - 04”.

Antonio Gomes. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Antonio Gomes entrou na escola tardiamente, com 14 anos de idade, nasceu em 1913 e matriculou-se em 09-03-1927. Ele também auxiliava a professora: corrigia as tarefas e ensinava as lições para os mais atrasados. Cursou até o 2º ano primário e, já se achando apto para enfrentar a vida, veio morar na cidade, igualmente seu colega Silvino. Antonio Gomes iniciou sua vida laboriosa na pesca, chegando ao posto de mestre; como tal, comandou os seguintes barcos de pesca (traineiras) - “Oriente”, “Vita”, “Santa Cruz”, “Confusão”, “Cidade de Santos”. Mais tarde, em sociedade com seu irmão Nicrano, construíram um barco do mesmo porte em que trabalhava, e deram o nome de “Dois irmãos”. O dinheiro que ganhava na pesca, investia na construção civil. Tudo ia de vento em popa, conciliando pesca com a nova profissão. Entrou para a política, candidatou-se a vereador e foi eleito na primeira tentativa em 1964-1969, no governo Matarazzo. Em 05/10/1967 aprovou e assinou o Projeto do Sistema Viário da Cidade. Este projeto foi ignorado pelos vereadores e os prefeitos sucessores de Matarazzo, até hoje.

A idade foi avançando, então sentiu a necessidade de adquirir um sítio, mas não era para se aposentar, gostava mesmo é de estar ocupado, do primeiro ao último raio de sol, e varar a madrugada se fosse preciso. Foi o único caiçara que eu conheci, a dar um giro de 360º graus, na sua profissão primitiva de pescador nato, se tornou fazendeiro até seus últimos dias. Comprou um sítio em “Vargem Grande” – São Luiz do Paraitinga onde criava gado leiteiro, e fabricava farinha de mandioca para vender em Ubatuba. Meses antes de morrer, já com a saúde bem abalada, mas ainda com forças para caminhar, encontrei com ele na peixaria do Carlinhos e, se apoiando no meu obro disse em voz alta: “A mãe desse menino aqui, que me ensinou a ler e escrever, e o Silvino Teixeira Leite também, foi a nossa primeira professora, nós cursamos até o 2º ano, e já estava pronto para vida, o estudo naquele tempo era puxado. Hoje em dia, a criançada sai da escola mais burra do que entrou.” Antonio Gomes faleceu meses depois desse encontro casual, em 25/06/2003.

A imagem abaixo mostra a comprovação da prisão do capitão Deolindo de Oliveira Santos.

Comprovação da prisão do capitão Deolindo de Oliveira Santos. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

Matéria publicada no jornal “A Semana”, em 08-08-2003 pg. 02, de autoria do Sr. Ricardo Faria.

Trecho do jornal `A Semana´. - Imagem: © Arquivo Nenê Velloso

F I M

[Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado III.]


Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "UBATUBA"Índice das publicações sobre "UBATUBA"
30/12/2022 - 05h40 Biblioteca de Ubatuba reabre em janeiro
29/12/2022 - 06h34 3ª etapa do Circuito Filipe Toledo Kids On Fire
28/12/2022 - 06h42 Assistência Social divulga campanha em Ubatuba
27/12/2022 - 07h39 E nas areias de Ubatuba... (CDXLIX)
27/12/2022 - 07h37 Inscrições para estágio na Prefeitura de Ubatuba
26/12/2022 - 07h47 IPTU 2023 em Ubatuba
ÚLTIMAS DA COLUNA "NENê VELLOSO"Índice da coluna "Nenê Velloso"
17/09/2018 - 07h22 Ubatuba cidade encanto (6/6)
17/09/2018 - 07h21 Ubatuba cidade encanto (5/6)
17/09/2018 - 07h20 Ubatuba cidade encanto (4/6)
17/09/2018 - 07h19 Ubatuba cidade encanto (3/6)
17/09/2018 - 07h18 Ubatuba cidade encanto (2/6)
17/09/2018 - 07h17 Ubatuba cidade encanto (1/6)
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.