Encontrar o equilíbrio entre o conservadorismo e a revigorada vontade de crescer é um dos maiores desafios no atual cenário econômico mundial. Acreditar que seria inimaginável entrar em um processo de bancarrota foi um dos sérios enganos cometidos por grandes corporações que se transformaram em um dos principais agentes responsáveis pelo estouro da crise no final do ano passado. Instituições bancárias centenárias e grandes indústrias dos mais diversos setores, em poucos meses, sucumbiram, desmoronaram impérios quase que “inquebráveis”, todos deteriorados por escolhas estratégicas equivocadas. O ainda modesto reaquecimento atual da economia passará a medir se a amarga lição de um ano foi realmente absorvida e se a crise trouxe realmente um aprendizado. Foi o excesso de apetite ao risco ou a sua própria negação que cegou empresas que acreditavam estar vacinadas contra potenciais insucessos. Muitas delas simplesmente esqueceram de olhar para o mercado e lançaram produtos que não estavam alinhados a expectativa de seus clientes. Um exemplo foi o setor automobilístico nos EUA. Algumas montadoras acreditaram que a força de suas marcas eram tão fortes que seu nome e tradição seriam suficientes para que o mercado absorvesse automóveis de grandes dimensões, mesmo indo contra a maré de demandas por veículos mais compactos e econômicos. É comum vermos companhias tomando decisões de alto risco, alicerçadas por excesso de confiança conquistada por sucessos anteriores, muitas vezes, obtidos em um cenário completamente distinto do atual. A falta de visão estruturada de riscos de negócios causa miopia generalizada nas empresas que não enxergam os sinais de deterioração de seus ativos, ignoram projeções, não estudam a fundo seus concorrentes e acabam crescendo sem disciplina, mudando as regras do jogo e da cultura da empresa. A crise nos trouxe lições dolorosas causadas por decisões pouco ortodoxas, como a falta de controle e regulamentação de governos em seus mercados. Até mesmo o setor bancário internacional, que por lidar com ativos sensitivos, sempre teve uma presença mais forte no que tange planejamento e controle de riscos, mantinha ações preventivas ineficientes. Salvo boas exceções, como é o caso dos bancos brasileiros que conseguiram passar pelo tornado, sem tantos danos à saúde de suas instituições. Deixamos de lado uma economia derivativa, embasada em excessivas especulações, e passamos a atuar agora em um ambiente real de mercado, de mais “pé no chão”. A bolha estourou e serviu para entender que os riscos estratégicos e aqueles associados aos processos e informações, se bem monitorados, podem fazer a diferença em termos de competitividade e sobrevivência. São combustíveis para alavancar o cobiçado crescimento. Para aproveitar o otimismo atual é preciso formar uma visão holística da empresa. Enxergá-la de forma clara, com maturidade e afinada ao contexto do mercado são fatores essenciais, capazes de manter a estrutura da companhia saudável, mesmo em momentos de pandemia global, no qual apenas árvores fortes e principalmente flexíveis acabam permanecendo em pé. Nota do Editor: Waldemir Bulla é sócio-diretor da Protiviti Brasil, uma das principais consultorias do mundo, especializada em auditoria interna, governança corporativa e gerenciamento de riscos. Com 28 anos de experiência o executivo foi um dos responsáveis pela implantação e desenvolvimento de áreas de risk consulting em empresas “Big 4”, além de passagens relevantes como diretor de Business Risk Services e auditoria interna da Energias do Brasil. E-mail: waldemir.bulla@protiviti.com.br.
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