Quando o assunto é alimentação somos bombardeados por todo tipo de informações. Um simples "faz-mal" pode tornar-se verdade sem qualquer fundamentação científica. Mitos, crendices, preconceitos e desinformação ajudam a formar esse caldo que tem suas origens em motivações religiosas, políticas, culturais ou econômicas. O que fazer? Duvidar de verdades sem base científica; ter cautela com "novidades" no mercado; e lembrar que o que faz bem para uns nem sempre é válido para todos são algumas medidas que podem proteger o cidadão desse fogo cruzado no campo da alimentação.

Mas voltando às motivações. Os judeus, por exemplo, não comem carne de porco por considerá-lo um animal impuro. Mas também há outras justificativas: o porco é um animal que necessita de água em abundância e alimento diário, o que seria economicamente inviável para o grupo que iniciou ou inventou o tabu.

Para os cristão, comer peixe na Semana Santa e abster-se de carne vermelha demonstra respeito ao sangue derramamento por Cristo. Pela tradição, o peixe foi o alimento multiplicado por Cristo e distribuído aos famintos. O gesto tornou-se símbolo de solidariedade nas comunidades cristãs.

No Brasil colonial, os senhores de escravos criaram o tabu da manga com leite. Foi a forma encontrada para evitar que os escravos tomassem leite às escondidas, comprometendo o volume entregue à Casa Grande.

Mas o mito mais popular diz respeito ao espinafre. O pesquisador americano Dr. E. Von Wolf, em 1870, errou na datilografia e conferiu 10 vezes mais ferro ao espinafre. Somente em 1937, pesquisadores alemães corrigiram o erro. Mas já era tarde. Popeye, o marinheiro clássico dos quadrinhos e desenhos animados, já havia sido criado por E. C. Segar, em 1929, popularizando a fama do poderoso vegetal.

Carnes, miúdos, leguminosas (feijão, lentinhas, ervilha e grãos de bico) e verduras de folhas verde-escuras (exceto espinafre) são ricos em ferro. A questão é que o espinafre contém ácido oxálico, um poderoso inibidor da absorção de ferro no organismo. No entanto, essa hortaliça tem substâncias antioxidantes e ácido fólico, um nutriente importante para mulheres grávidas, pois ajuda a prevenir problemas neurológicos no feto.

Para citar mais dois exemplos: a vitamina C aumenta a absorção de ferro. Isso é verdade. A ingestão de ferro torna-se mais eficiente quando ao consumir porções de leguminosas, vegetais ou carnes quando acompanhada de um alimento rico em vitamina C (laranja, acerola, caju, limão etc.). O mel não faz mal para diabéticos. Um erro! O mel é rico em minerais, mas tem as mesmas calorias do açúcar.

Entre os mitos modernos podemos citar os alimentos funcionais. Segundo a Anvisa, alimento funcional é todo aquele que além das funções nutricionais básicas, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica. Chá verde, quitosana, tomate, vinho são alguns exemplos com comprovação científica. Mas é preciso tomar cuidado nessa área. O mercado esta cheio de "novidades mágicas" para os mais variados fins.

Portanto, duvidar das "verdades" alimentícias sem comprovação científica é o primeiro passo para evitar imbróglios; cautela com a ingestão descontrolada de qualquer "novidade" mercadológica; incluir mais frutas e hortaliças nas refeições e procurar uma dieta mais equilibrada são alguns caminhos para garantir a segurança e a qualidade nos hábitos alimentares. O resto é lenda!

Nota do Editor: Regina Celi Araujo Lago (lago@ctaa.embrapa.br), Doutora em Ciência de Alimentos, chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos.