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Arte e Cultura
14/11/2004 - 10h14
O mundo imaginário na construção do ser humano
Myriam Tricate
 

A maçã envenenada da Branca de Neve é tentadoramente vermelha. Como cheira o pão quentinho da Galinha Ruiva! Que medo deve sentir o ratinho entre as garras do leão. O vestido de Cinderela brilha como as estrelas... Histórias não são feitas apenas de palavras: têm peso, cor, sabor, têm detalhes que não cabem nos limites do texto, mas são tão importantes quanto as narrativas que vêm se repetindo há séculos.

Histórias são pontes; são laços entre o narrador e o ouvinte, entre o real e o imaginário, entre o passado, o presente e o futuro; são elos que se constroem e reconstroem entre seres humanos, em um processo sem fim.

Partir desse princípio não é apenas uma forma poética de realçar a importância das narrativas fantásticas, das fábulas e de todas as histórias que povoam o universo infantil. No projeto "Quem conta, reconta... faz de conta", que o Colégio Magno está desenvolvendo com seus alunos da educação infantil, a intenção é recuperar um olhar que se perdeu ao longo do tempo.

Normalmente, quando os adultos lêem as fábulas ou mesmo quando tentam interpretá-las, sobressaem os aspectos "pedagógicos" que estão na origem dessas narrativas.

Quando não existiam escolas, imprensa, quando os livros eram copiados à mão e o mundo era ainda um enorme continente inexplorado, essas histórias representavam um caminho para a educação de valores, posturas de vida, costumes.

Esse é um dos motivos pelos quais as fábulas são maniqueístas e moralistas. Falam do bem e do mal, do certo e do errado, do justo e do injusto, da união e da desunião, do medo e da coragem. Tanto que não eram dirigidas às crianças, mas especialmente aos adultos - daí o tom até assustador que assumem nas versões originais.

Mas não faz sentido, nos tempos de hoje, tratar as histórias de fadas como se fazia na Idade Média. Não é esse mundo cheio de certos e errados que magnetiza as crianças (e os adultos). É, sim, a sua riqueza imaginativa, a sua base de sonhos e de possibilidades que leva os humanos para muito além de seu cotidiano. Quem não queria possuir uma bota de sete léguas, ou encontrar príncipes encantados; quem não queria ter uma varinha de condão?

As histórias são catalisadores da imaginação sem fronteiras que caracteriza a infância. Esse, sim, é o caminho a ser explorado em um projeto pedagógico afinado com o século XXI.

Em um mundo marcado pelo lazer passivo da televisão, pela imobilidade dos apartamentos, pelas ruas apinhadas de carros, as histórias de fadas são um passaporte livre para o mundo da criança e para todos os processos formativos típicos da idade - a formação da personalidade, a construção de regras e valores, o desenvolvimento cognitivo, motor e socioemocional.

É aqui que entra a Escola, cujo papel não é o de inventar histórias, não é instrumentalizá-las como itens do currículo, nem tornar obrigatório um prazer tão natural. Ao contrário, o papel da escola é mergulhar no fundo da fantasia, junto com as crianças, construindo permanentemente paralelos com a vida de cada um.

Voltamos ao começo desse texto. As histórias têm cheiros, cores, sabores, densidades. As histórias não são apenas processos mentais de intelecção, mas uma fábrica de sentidos e experiências.

Vamos forçar um pouco a memória: quem de nós nunca quis saber o que ia dentro da cesta de Chapeuzinho Vermelho? Pois então, vamos para a cozinha preparar esses quitutes. Que tal passear na fazenda da Galinha Ruiva? Cada momento, cada detalhe ganha uma leitura especial e diferenciada. Ou melhor, a cada leitura, a história, como um prisma, ganha novas cores. Quem conta, reconta... faz de conta.

O que as crianças aprenderão? Não há limites. Cada narrativa leva a mundos diferentes, embora tenham um substrato comum. Daí a construção de mapas contextuais para cada um dos 31 contos escolhidos.

Em cada um dos projetos, serão desenvolvidas ações pedagógicas em áreas como:

- Atividades de música e educação física, vivências apresentadas nos jogos dramáticos, que levarão os alunos a criar situações imaginárias e encenações representativas;
- a exploração de todas as dimensões artísticas;
- o aprendizado e o exercício da língua oral e escrita, conforme a faixa etária.
- a compreensão de conceitos nas áreas de Ciências e Matemática, entre outras aprendizagens;
- o uso de diversos recursos. Alguns dos contos apresentados favorecerão, também, o acesso a computadores e outros recursos tecnológicos;
- o trabalho com a linguagem e a comunicação. Os alunos possivelmente irão se familiarizar com livros, filmes e situações que requerem o uso da linguagem oral e escrita;
- atividades de exploração sensorial, todo o tempo.

Vivendo as histórias, convivendo com os personagens e suas aventuras, seus sentimentos, as crianças serão convidadas para um aprendizado prazeroso e significativo.

As histórias - como as selecionadas para o projeto - trazem saberes e experiências acumuladas por várias gerações. Oferecem exemplos de modelos e papéis que, desde a infância, facilitam nossa relação com o mundo. Levam-nos a experimentar as emoções, a "treinar" posturas, a nos identificar com personagens e situações, a sonhar coisas melhores do que temos e a perceber que tudo também poderia ser pior.

Contos de fadas, histórias de bichos e fábulas são uma porta de entrada para o mundo da fantasia, e, como podem ver, também uma porta de saída para a vida real.


Nota do Editor: Myriam Tricate é educadora e diretora pedagógica do Colégio Magno, São Paulo (SP).

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