Nossos irmãos e antecessores portugueses cantavam e cantam um fado que mantém esta afirmativa muito sábia. Digo sábia, pois nela contém uma verdade que não percebemos à primeira vista, afinal nós temos o hábito de contar piadas de portugueses e brincar jocosamente com eles e creio que por isso não prestamos atenção ao que está nas entrelinhas. Quando deparamos com esta afirmativa, corremos o risco de pensar na idéia de que navegar é necessário e viver não. Afinal, esse é um dos sinônimos do verbo precisar. Porém, se pegarmos a palavra "preciso" como adjetivo, percebemos que o sentido muda e, assim, percebemos uma revelação interessante, óbvia e lúcida. Assim: Viver é incerto, navegar não. De posse da idéia de precisão, entendida como certeza e... entendemos que na ciência e na arte da navegação temos vários instrumentos de precisão como mapas, bússolas e outros aparatos para viabilizar e garantir uma navegação segura e precisa. Da mesma forma, a nossa vida não é assim. Ela está repleta de possibilidades e incertezas e nossos planos e planejamentos são apenas uma declaração de intenções na sua maioria, afinal ninguém é capaz de garantir a sua própria existência de um dia para outro. Nossa existência é incerta e mutável e, por isso, é um grande desafio, pois temos todos os dias uma grande variedade de possibilidades e limitações que fazem com que tomemos decisões e façamos escolhas e assim vivemos nossos dias que podem até estar ordenados e planejados, mas não garantidos. Faço esta reflexão para que entendamos melhor os processos de nossas vidas e também o processo educacional em que há um grau de incerteza muito grande, mesmo quando se utilizam as mesmas fórmulas e ações. Creio que nós todos somos testemunhas de uma família (pode ser a nossa) em que todos os filhos foram criados, educados da mesma maneira, na mesma escola, com as mesmas possibilidades, mesma atenção (ou desatenção) dos pais e que o resultado pessoal e profissional destes foi completamente diferente. Bem, isso ocorre porque "viver não é preciso" e não há garantias nem fórmulas de sucesso. Sabemos que se não tomamos determinados cuidados com a saúde, critérios na educação, escolha da escola e companhia de nossos filhos a integridade física e moral deles pode estar ameaçada agora ou no futuro. Assim sendo o que nós podemos fazer é uma prevenção, uma preparação, ou seja, educar. Por que educar é preparar as novas gerações para desafios que a vida nos impõe atualmente com olhos nas mudanças e alternativas que eles (educandos) enfrentarão no futuro. "Navegar é preciso, viver não é preciso"... Poderíamos, a partir disso, pensar que nossos esforços em garantir, para nossas crianças, saúde, educação, alimentação, moradia, segurança e outras coisas seriam inúteis, mas não são. Isso porque mesmo sem nenhum grau de precisão, a vida é dom de Deus e Ele espera que nós cuidemos uns dos outros. Inútil sim é pensar que apenas eles (os esforços) garantirão uma vida precisa, medida, "perfeita". Os esforços são precisos, no sentido de necessários, mas não precisos, no sentido de exatos. Então cantemos... "navegar é preciso, viver não é preciso..." Nota do Editor: Elimar Melo é coordenador administrativo da Faculdade Arnaldo (www.faculdadearnaldo.edu.br).
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