Aumento da renda e do poder aquisitivo influencia participação das mulheres em diversos segmentos como educação, consumo e Internet
Há apenas 15 anos, as mulheres ganhavam aproximadamente 30% do salário de um homem, na mesma função. Hoje este percentual já chega a 70%, segundo dados do IBGE. A tendência é que em um espaço de tempo muito menor aconteça a isonomia e, em seguida, uma inversão nos percentuais. Esta transformação nos padrões de renda femininos está criando novos hábitos de consumo e modificando antigos paradigmas. Com um poder de compra mais elevado, as mulheres investem cada vez mais em qualificação, estudo, lazer e produtos de consumo variados, que antes não faziam parte da lista de compras. Um mercado no qual se observa grande mudança no perfil comportamental das mulheres é o do vinho. Este mundo já foi exclusivo dos homens que produziam, escolhiam e recomendavam a bebida. Na opinião do enólogo da Enoteca Decanter, Lisandro Neis, existem três fatores principais nessa mudança. “As mulheres estão consumindo mais, de forma mais ativa e, ao mesmo tempo, estão mais conhecedoras da bebida, principalmente, devido à participação em cursos, degustações e confrarias”, observa. Uma pesquisa feita pela Wine Market Council revela que no mercado americano as mulheres já são 53% dos consumidores de vinhos. As mulheres estão presentes mais que nunca como produtoras, enólogas, jornalistas especializadas e sommeliers. Segundo Neis, é cada vez mais comum grupo de mulheres que frequentam a Enoteca Decanter sem necessariamente estarem acompanhadas de homens. “Elas chegam em grupos de amigas para conversar e apreciar a bebida. Este é um hábito comum entre nossas clientes”, comenta. E não é apenas em grupos. Ainda de acordo com Neis, “também é comum mulheres irem ao local sozinhas”. Em cursos de degustação o número de mulheres costuma até supera o de homens em algumas ocasiões. “Em outubro passado, por exemplo, em um grupo de 20 pessoas, 12 eram mulheres. O que se vê diariamente é um equilíbrio entre o público feminino e o masculino”, pondera. Já para Antônio Guido, sommelier e diretor de vendas da Adega do Mercado, localizada no Mercado Distrital do Cruzeiro, o aumento do poder de compra das mulheres está diretamente relacionado à mudança de comportamento no segmento de vinhos. “O crescimento do poder aquisitivo do público feminino favorece a participação em um mercado considerado caro. Elas trabalham e possuem renda, por isso optam por conhecer novos produtos”. Além disso, “o consumo do vinho envolve um ritual envolto de charme, cultura e referência à qualidade de vida e apelo ao romantismo o que, naturalmente, chama a atenção das mulheres”, destaca. Cliente assídua da Adega do Mercado é a professora da Associação Brasileira de Sommelier (ABS-MG), Leda Beirão. A tradição do vinho na família da professora é o que a levou, mesmo formada em arquitetura, a se profissionalizar. “Minha família é de Portugal e sempre tivemos a degustação como um hábito. Quando morei em Paris fiz um curso na área. Mas só depois me especializei no Chile. Quando voltei ao Brasil, comecei a ministrar a disciplina de enologia em um curso de gastronomia. Hoje sou também professora na ABS-MG”, explica. A publicitária e autora do blog Bares de BH, Daniela Miranda, utiliza o canal para expressar sua opinião sobre serviços de restaurantes e bares da capital. Foi Daniela a responsável por tornar a degustação de vinhos um hábito em sua casa, influenciando o marido, antes consumidor exclusivo de cerveja. “Sempre gostei muito de espumantes e, durante uma viagem à Itália, fiz uma pesquisa e tracei um roteiro de locais tradicionais na fabricação de vinhos,” relembra. Daniela destaca que o atendimento em restaurantes também tem se tornado diferente nos últimos anos. “Antigamente, quando chegávamos a um restaurante, os garçons serviam primeiramente o homem para que degustasse o vinho. Se aprovada, a bebida era, então, servida às mulheres. Hoje, no entanto, somos participantes desse ritual de aprovação, o que me deixa extremamente satisfeita”, garante. Elas dominam as salas de aula e a Internet Além de consumidoras exigentes e bem informadas, as mulheres também têm se qualificado mais e se dedicado aos estudos em tempo superior aos homens. Dados do IBGE comprovam que as mulheres estudam mais tempo do que os homens, com escolaridade média de 9,2 anos contra o máximo de 8,2 deles. Entre os brasileiros com 12 anos ou mais de estudo, elas são 56%. As mulheres também são maioria no ensino superior, representando cerca de 380 mil vagas a mais que eles nos cursos de graduação. Nas escolas de idiomas a situação não é diferente. A superintendente geral da rede nacional de franquias Number One, Thelma M. Lawton, conta que 65% dos alunos são mulheres. “As mulheres estão mais presentes em diversos segmentos da economia, e, aqui também registramos isso. A diferença fica mais visível entre o público de 15 a 25 anos, principalmente em Minas Gerais. Além de a procura ser maior, elas são mais fiéis aos estudos e focam suas carreiras e perspectivas profissionais”, afirma. Roberta Santos, aluna do Number One, reconhece a importância de estudar inglês para aprimorar a carreira. Ela terminou a faculdade de secretariado executivo bilíngue e viu a necessidade de investir em um curso de idiomas. “O mínimo que se exige na minha área é o inglês fluente. Sem ele eu não estaria hoje como secretária executiva da presidência da Fiat. A empresa custeia meu curso e o meu inglês é cobrado anualmente nas avaliações de desempenho”, conta. A presença das mulheres no mundo digital é outro fator que tem se modificado. Elas já representam 47% dos usuários brasileiros, passando 39 horas semanais na web, contra 21 horas assistindo TV e cerca de 7 horas semanais em sites de mídias sociais – uma hora a mais do que os homens. “Atualmente, 92% das internautas brasileiras além de manterem o computador ligado enquanto assistem TV, cultivam o hábito de enviar e receber e-mails enquanto acompanham os seus programas preferidos. Deste total, 83% afirmam que, ao ver um comercial interessante na TV, buscam na web mais detalhes sobre o produto, sendo que para apenas 8% das entrevistadas a propaganda em redes sociais é considerada invasiva, contra 19% dos homens. Isso mostra como este público tem hábitos favoráveis à propaganda e ao consumo e como esta mudança de comportamento deve ser levada em consideração no posicionamento de uma empresa no mercado”, avalia o especialista em varejo Bira Miranda, diretor de planejamento da B1 Comunicação e Marketing.
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