“A presidente Dilma Rousseff tem a oportunidade histórica de se colocar à altura dos grandes estadistas: adotar um plano, talvez inspirado no ‘Plano Marshall’ do governo Truman, nos Estados Unidos, para a reconstrução do País”, diz Nildo Carlos Oliveira, jornalista especializado em construção e infraestrutura e integrante do Conselho Editorial da revista O Empreteiro, que está completando 50 anos. Segundo ele, a presidente deveria ter a iniciativa de mandar elaborar plano abrangente, costurado com a participação da capacidade e da inteligência nacionais, envolvendo geógrafos, geólogos, geotécnicos, consultores de engenharia, empresários dos mais diversos segmentos, pesquisadores de instituições públicas e privadas e outros agentes do processo, prevendo programas para a reconstrução das cidades e das regiões devastadas por catástrofes naturais. O plano, extensivo a centenas de municípios situados em áreas sujeitas a inundações, deslizamento de encostas e a outros fenômenos naturais, poderia converter-se em modelo a ser adotado até por outros países, em circunstâncias similares. Ele aproveitaria as verbas já disponíveis no Ministério de Integração Nacional para esse fim, bem como os recursos da ordem de R$ 33 bilhões previstos para o Trem de Alta Velocidade (TAV), que desta forma teriam uma destinação mais útil e imediata. Os desabrigados do Rio de Janeiro, Vale do Itajaí (SC), São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Rio Grande do Sul, apenas para ficar nas catástrofes mais recentes, continuam desamparados e sem solução definitiva do poder público. Negligenciar um plano dessa ordem, que ajudaria a reconstruir cidades e auxiliaria a população a refazer suas vidas, para optar pela insensatez dos gastos com o trem-bala, seria o mesmo que comprar um carro de luxo, quando falta comida em casa, há goteiras no telhado e as crianças dormem no chão, algumas até esperando atendimento médico. Nos últimos anos, a renda média da população melhorou e os bolsões de miséria foram reduzidos, embora persista a enorme distância entre a ilha da fantasia de Brasília, habitada pelos que utilizam a política para, com raras exceções, especular com ela, e o Brasil real, constatado nas áreas da saúde, saneamento, transportes, energia (exemplo do último apagão), habitação e educação. O “Plano Dilma”, imagina, significaria a garantia de um legado de segurança de vida e de trabalho para as futuras gerações. Seria desenvolvido em diversas etapas, a começar pelo mapeamento minucioso das regiões com riscos geológicos. Estabeleceria um programa muito amplo de obras preventivas, que jamais se esgotariam em uma única administração, mas que teriam a continuidade assegurada com destinação de recursos municipais, estaduais e federais específicos. E alavancaria os projetos para a recomposição das regiões devastadas, recriando as condições para o fortalecimento de economias locais, o ressurgimento das atividades culturais e a inserção de todo esse conjunto de atividades no renascimento das comunidades atingidas. “Quanto aos que insistem com a fantasia do TAV, aconselho que continuem usando a Ponte Aérea, carros particulares ou o sistema rodoviário, pela via Dutra. O trem-bala é, definitivamente, um luxo que o Brasil pode adiar por algumas décadas”, diz Oliveira.
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