“Navegar é preciso, viver não é preciso”. Esta frase famosa, muitas vezes atribuída a Fernando Pessoa ou a Camões, foi dita originalmente em Latim (Navigare necesse, vivere non necesse), por Pompeu, general romano, 106-48 a.C., aos marinheiros amedrontados que recusavam viajar durante a guerra (cf. Plutarco, in Vida de Pompeu). Somos tomados de fascínio quando nos deparamos com esta expressão, visto que ela demonstra toda a dualidade do mosaico que é a vida humana. O verbo “precisar” é utilizado no sentido de ter exatidão e também no sentido de ter necessidade, deixando ao leitor ou ouvinte escolher o significado mais adequado ao seu momento e a todos os aspectos de sua vida. Amar e ser amado, ao mesmo tempo, é preciso e não é preciso, ou seja, é necessário, mas não é exato. Escolher uma profissão aos 18 anos de idade também é necessário, mas potencialmente impreciso. Mesmo nossas escolhas de consumo, que vão desde a marca do arroz ou leite que levamos para a casa, passando pela cor de nossas camisas, até o carro que colocamos em nossa garagem, indicam muita necessidade para tão pouca certeza da escolha feita. Diante de tanta necessidade e tão pouca exatidão, é natural navegarmos na busca do enriquecimento. Enriquecer é preciso. Ser rico significa ter mais recursos, ter melhores, maiores e mais equipadas embarcações e, mesmo que os mares não sejam calmos, poderemos contratar os melhores marujos para nos auxiliar a navegar. Mesmo que uma grande onda nos arremesse, ainda assim, teremos recursos para reconstruir nossa nau e seremos capazes de prosseguir nossa viagem na vida tão imprecisa e ao mesmo tempo tão necessária. Em ambos os sentidos, o da necessidade e o da exatidão, enriquecer é preciso. Imagine uma sociedade utópica onde todos trabalham e, não importa o que façam, recebem o mesmo rendimento ao final de um período. Por tanta certeza da empregabilidade e da igualdade de renda, todos, exceto um único indivíduo desta sociedade, gastam tudo que recebem. Sendo assim, é certo que, em pouco tempo, a única pessoa que poupa algo será mais rica que os demais. Repare que não falei em números e nem em quanto este indivíduo poupa. Ainda assim, há a certeza matemática que terá mais posses que os demais, pois poupou enquanto todos gastaram. Enriquecer é um ato de matemática simples: basta ter renda, gastar menos do que se recebe e aplicar corretamente a diferença para ter mais hoje do que o que se possuía ontem e ter mais amanhã do que se tem hoje. Infelizmente, a maior parte das pessoas coloca conflitos humanos na certeza matemática. Ao buscar acelerar o processo de enriquecimento em uma velocidade além da qual suas embarcações aguentariam, assumem riscos desconhecidos e escolhem a melhor aplicação financeira de hoje vendo o passado. Não é possível eliminar riscos, mas é preciso, no sentido de necessário, conhecê-los e monitorá-los. Um pouco de risco faz bem ao processo de enriquecimento desde que não seja o suficiente para comprometer toda a rota da formação de patrimônio. A diferença entre ser rico ou não pode significar ter o leme de nossas vidas nas próprias mãos ou estar à deriva, à mercê das incertezas da vida. Enriquecer é preciso, e é preciso. Nota do Editor: Mauro Calil (www.calilecalil.com.br) é palestrante, educador financeiro e autor do livro “A Receita do Bolo”.
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