Nos tempos mais antigos em São Sebastião os partos eram feitos por parteiras, senhoras que por experiência acompanhavam as gestantes durante a gravidez e auxiliavam na hora do nascimento. Contavam com a confiança das mulheres da época e era muito comum os partos acontecerem em casa com a ajuda das mães e das avós. Entre as antigas parteiras registramos Dona Júlia, Dona Maria, a enfermeira Dona Guilhermina e Dona Olga, que hoje tem 88 anos. Os medicamentos ficavam por conta do farmacêutico Sebastião Silvestre Neves, havia também o Posto de Saúde do Estado e alguns casos mais complicados seguiam para Santos, ou para São Paulo a procura de melhor atendimento. A Irmandade da Santa Casa Coração de Jesus, fundada em 06/06/1926, começava a se organizar para dar início à construção do Hospital de Clínicas de São Sebastião. Em 14/12/1951 atendendo a um projeto do Governo do Estado de São Paulo foi fundada em São Sebastião a APAMI Associação de Proteção e Assistência a Maternidade e a Infância. A primeira presidente foi a Dona Nair Scaramelli, que na época era a primeira dama, esposa do prefeito Sr. Jaime Scaramelli. O nome da entidade definia bem seus objetivos, ou seja, o atendimento as gestantes e as crianças em suas necessidades básicas. Eram acompanhadas pelo Dr. Carlos Alberto Câmara Leal de Oliveira e recebiam enxovais, medicamentos e as crianças eram atendidas até completarem 12 anos. A segunda presidente dessa entidade beneficente foi a Dona Leonor Santos de Oliveira, esposa do Dr. Carlos, que presidiu a entidade durante 30 anos formando uma parceria brilhante, que finalmente trouxe algumas mulheres sebastianenses para o atendimento médico durante a gestação e o parto. A Dona Lola, como era carinhosamente conhecida, seguia com o projeto e para efetivar os trabalhos contava com um grupo de apoio formado por senhoras que transformaram a entidade em uma referência no Litoral Norte. Na época promoviam tômbolas (tipo de rifa) e os tradicionais Concursos de “Boneca Viva” para arrecadar fundos. Em 14/12/1959 a APAMI inaugurava a sua sede própria, à Rua Benjamim Constant nº 22 no Centro de São Sebastião. Com a ajuda do Governo do Estado de São Paulo, foi inaugurado em 16/03/1963 o Hospital de Clínicas de São Sebastião. Chegava também a cidade a ginecologista Dra. Eliza Pinheiro Mendonça e assim foi finalmente vencida a última barreira de preconceitos, as caiçaras entenderam de vez a importância do acompanhamento médico hospitalar durante a gravidez. Hoje o grupo de apoio da APAMI, formado por senhoras, se reúnem às terças-feiras das 14 às 18 horas e confeccionam bordados para serem vendidos em um bazar no final do ano. A venda é direcionada a campanha de natal. Contam também com um quadro de associados que contribuem com uma quantia fixada por cada um deles, mínima de R$ 5,00 (cinco reais) além do aluguel de prédios pertencentes à entidade. No último balanço foram registrados os seguintes serviços: distribuição de cobertores (253), enxovais às gestantes (37), cestas básicas (20), cestas natalinas (80), brinquedos (370), fraldas geriátricas, medicamentos, consultas médicas especializadas e óculos. A presidência da APAMI é exercida há dez anos pela professora Maria do Nascimento. No dia 11/07/1993 a Prefeitura de São Sebastião encampou o CIAMA - Centro de Incentivo ao Aleitamento Materno, esse projeto começou na sede da APAMI e os atendimentos eram feitos pela pediatra Dra. Flávia Martinelli e a enfermeira obstetra Carla Bruço. As gestantes atendidas recebem enxovais para o bebê, doados pela APAMI. A sede atual localiza-se no Centro de Saúde da Topolândia, no prédio Joseane Pereira de Jesus à Rua Antônio Pereira da Silva nº 280, bairro da Topolândia, tel. 3891-4957, conta com uma equipe multidisciplinar com 22 profissionais, e faz uma média de 1.500 atendimentos por mês. A coordenadora há 10 anos é a enfermeira Carla Maria Bruço, que está no CIAMA desde a criação. O CIAMA pertence à Secretaria de Saúde de São Sebastião, mas as primeiras damas sempre dão apoio irrestrito ao programa, e contam também com os serviços voluntários de vários profissionais. O atendimento começa no 1º mês, em todas as etapas da gestação e acompanha a criança até os 2 anos ou mais, enquanto estiver mamando. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a amamentação exclusiva até os seis meses de vida do bebê, ele deve se alimentar com leite materno, não somente pelos benefícios de nutrir o bebê, mas inclusive para criar uma ponte emocional entre os dois. No Banco de Leite Materno, recebem as doações e pasteurizam, podendo depois oferecer aos prematuros do Hospital de Clínicas, outros hospitais da região e qualquer hospital com UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em neonatologia. O CIAMA oferece cursos de capacitação para funcionários e pais atendidos no programa. Entre as atividades de apoio à gestante destaca-se a costura, com a confecção da “Boneca que amamenta”, trata-se de um instrumento lúdico que ajuda as futuras mamães se familiarizar com os detalhes da amamentação. O CIAMA está chegando à maioridade e segundo a coordenadora Carla: “Ainda é preciso haver mais avanços, pois o aleitamento materno é a estratégia isolada que mais previne mortes infantis, além de ser um ato simples, barato e acessível.”
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
|