A solução passa pela educação
As estatísticas, infelizmente, ainda fortalecem o noticiário que informa graves acidentes de trânsito com vítimas fatais, principalmente por conta da mistura de álcool e direção. Férias e feriados, que deveriam ser festivos, para muitos acabam em tragédia e sofrimento. A falta de educação, reforçada pela imprudência e sensação de impunidade, rouba muitas vidas e deixa um rastro de sangue nas estradas e cicatrizes nos corações e mentes, que permanecerão pelo resto da existência das pessoas envolvidas. Essa dura realidade continua cada vez pior. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que, no Brasil, mais de 40 mil pessoas morrem no trânsito e que 40% dos acidentes tem relação com o álcool. É um absurdo pensarmos que somos o 5º país com o maior número de mortos em estradas. Acidentes de trânsito são a segunda principal causa de morte no Brasil. São gastos cerca de R$ 190 milhões por ano em atendimentos às vítimas. De 2002 a 2010, foram mais de 325 mil mortos. Se calcularmos com o mesmo valor, o País já gastou mais de R$ 1,7 bilhões em atendimento. Com estes recursos, o governo poderia ter investido mais, se podemos dizer assim, em educação para o trânsito. Em Recife não é diferente. Não é necessário estatísticas para percebermos que o número de acidentes, principalmente os que envolvem automóveis e motos - muitos com vítimas fatais - vêm crescendo, ceifando centenas de vidas a cada ano. Há 16 anos perdi um filho e uma neta em um desastre de carro na cidade de São Paulo. Ele, 25 anos; ela, seis meses. Ricardo, ilustrador e cartunista, era casado e tinha três filhos. Mariana, que morreu com ele, a caçula. Naquela madrugada de 1996, cheguei em casa, me preparava para dormir quando um lacônico telefonema anunciou: morreu Ricardo Filho, morreu Mariana. O irresponsável que avançou o semáforo vermelho e os matou fugiu, desapareceu. Enterrei filho e neta juntos, contra a lei da natureza. Longos e dolorosos 15 anos depois, após uma luta sem trégua marcada apenas pela busca de justiça, jamais de vingança ou reparação financeira, o criminoso foi encontrado e julgado. Respondeu em liberdade à condenação de apenas um ano e nove meses. O máximo de pena nestes casos são três anos de prisão. Réu-primário, responde em liberdade... Nunca aceitei a condição de vítima. Sofri tudo o que era possível, cheguei ao fundo do poço e voltei, sobrevivente, para seguir meu destino. Mas, cabe mudar a realidade que vivemos neste país: o investimento em educação precisa ser, no mínimo, 10% do PIB, as leis de trânsito precisam ser mais rigorosas, as penas devem ser maiores e, mais importante, que sejam realmente cumpridas. O número de mortos em acidentes de trânsito no Brasil é superior a muitas guerras civis pelo mundo. A irresponsabilidade dos motoristas não deve/pode ser tratada pela lei como simples acidente, quando na verdade é crime. Muitos perguntam-me o porquê de relembrar a tragédia que vitimou a nossa família. A resposta é simples: para não acontecer de novo com outras pessoas. Cabe à sociedade brasileira, em sua legítima defesa, lutar por mais educação e pela aprovação de leis que estabeleçam novos meios de provar a culpa dos motoristas alcoolizados, dos que dirigem de maneira insana. Também é preciso que as leis sejam mais rigorosas, tenham penas maiores e que sejam de fato cumpridas. Por você, por nós, pelo futuro do Brasil. Nota do Editor: Ricardo Viveiros, jornalista e escritor, é autor de vários livros, entre os quais O Poeta e o Passarinho (Editora Biruta), que será lançado em Recife no dia 29 de julho, na Livraria Cultura da Praça Alfândega.
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