O Brasil é muito conhecido como o “país do jeitinho”, onde sempre uma ação de última hora pode resolver o pior dos problemas. Entretanto, no mundo empresarial não é isso o que vem ocorrendo, principalmente no que diz respeito ao mercado das micro, pequenas e médias empresas - já que 60% dos empreendimentos fecham suas portas antes de completar cinco anos de existência. A realidade mostra que não há qualquer medida imediata e milagrosa capaz de livrar uma empresa da inscrição na dívida ativa, dos juros do cheque especial e da pressão dos fornecedores. É indiscutível o empenho empreendedor dos brasileiros. Muitos investem em um negócio próprio e exibem uma destacada capacidade técnica em seus setores de atuação. Mas isso pode não ser suficiente. Em um cenário cada vez mais competitivo, é inadmissível que companhias recém-criadas ainda iniciem suas atividades sem estudar em profundidade o próprio segmento de atuação, as qualidades e deficiências dos concorrentes e as necessidades do público-alvo. Entrar no mercado sem nenhum tipo de planejamento é como navegar em mar aberto sem bússola. Fica-se à mercê das marés. Por que o empresariado nacional, mesmo os micro e pequenos, não se utiliza de trabalhos de business plan para identificar os riscos do negócio, desempenho financeiro, projeções, captação de parceiros ou investidores, entre outros aspectos? Além do pouco conhecimento de gestão, boa parte dos empresários brasileiros carece da falta de capital de giro, não consegue saldar fornecedores, não recolhe tributos e deixa muitos funcionários sem receber no fim do mês. Uma regra básica, e que poucos cumprem, é não misturar o bolso da pessoa física com o da jurídica. Outra é elaborar com perseverança um fluxo de caixa para controlar melhor as finanças da empresa, seja ela grande ou pequena. Com o fluxo de caixa em mãos, é possível saber quando e quanto de recurso será necessário. Os benefícios proporcionados pelos consultores tributários, trabalhistas e de gestão ainda não são amplamente reconhecidos. Continua a prevalecer a visão de que não passam de profissionais que apontam apenas problemas - sem apresentar soluções - e sempre estão ávidos em reduzir o quadro funcional. No entanto, é bom lembrar que as consultorias são acionadas, via de regra, quando o barco está afundando e não à deriva. Nessas situações, em muitos casos, já não há o que fazer. Outro exemplo muito oportuno: um planejamento tributário bem elaborado evita o recolhimento de impostos desnecessários e a empresa descobre o regime tributário mais adequado, lucro real ou lucro presumido. Como se percebe, a grande maioria dos empresários aproveita mal o conhecimento e as soluções proporcionados por esses profissionais. Trata-se de uma questão cultural. O empreendedor deve olhar para o consultor como um parceiro que irá auxiliá-lo da melhor maneira possível a atingir e concretizar os objetivos, como a expansão dos negócios ou geração de exportações, sempre em respeito às complicadas regras da nossa legislação. Para a parceria dar certo, é essencial acompanhar o que foi planejado para atualizar e mudar os rumos do processo. Se um check-up preventivo pode evitar um enfarte, uma consultoria preventiva eleva as chances de sucesso do negócio, afasta atrasos de produção, evita endividamentos bancários ou pedidos de falência, uma vez que os consultores conhecem bem o negócio e as particularidades de cada cliente, além de estarem sempre atualizados com a legislação. Ademais, a consultoria estabelece foco com objetivos estratégicos bem realistas e fornece um plano de negócios delineado, que dá um norte seguro para a companhia. Mas é preciso conhecer de antemão os riscos para evitá-los ou minimizá-los e diminuir as estatísticas de concordatas e falências. Antecipar-se aos problemas ou aos fatores de vulnerabilidade é uma das funções delineadas por um plano de negócios, no qual são pensados todos os pontos de diferenciação da corporação ou do produto que ela comercializa. Com a ajuda de consultores, o empresário tem uma importante ferramenta de análise de desempenho, que possibilita planejar seus passos desde o início de suas atividades até o seu crescimento, traçar diretrizes e corrigir eventuais equívocos cometidos até então. Nota do Editor: Hugo Amano é diretor da divisão de auditoria contábil da BDO Brazil.
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