Tem aquela da vozinha que chama o neto pra se despedir, conta que está deixando pra ele coisas que ele nem sabia que ela tinha, terra, bois, e quando ele pergunta onde fica essa fazenda ela explica: “no orkut”. Quando esse tava no auge, diziam que “todo mundo é feliz no orkut, crítico no facebook e revoltado no twitter”. Entrar para o anedotário popular é a última etapa de consagração das redes (agora mais do “face”, já que o número de usuários do twitter está caindo, como o do orkut), porque como já dizia o Mário Quintana “o sucesso não é ser assunto, é ser falta de assunto”. A ironia sobre a diferença dos perfis dos usuários das redes serve também para a TV, preferência de quando não se sente falta de interagir. Hoje a TV ainda define eleições e requer capacidades específicas - análogas ao treinamento de atores diante das câmeras - para quem quer despertar simpatia no público. Na TV o conteúdo perde de goleada para a forma e talvez só nos debates finais você assista algo mais “quente”. Os programas políticos tendem a se parecer cada vez mais com um “Big Brother” onde pedem seu voto para a pessoa “mais legal” do que com propostas comprometidas com a sua vida, o seu futuro. O que deve mudar o caráter das eleições e dos eleitos é o aumento gradativo dos que preferem a internet à TV. Na rede qualquer coisa desperta reações, críticas, desmentidos. Claro que o “feedback” depende do público específico de cada um, lembre que você é quem escolhe a sua “turma” e os palpites desta é que vão repercutir na sua página. Por isso mesmo, existem “nichos” tanto anti-governo quanto anti-política, religiosos ou anti-religiosos, de esportes, de artistas e - cada vez mais - de pura diversão. Apostei com meu filho, faz um tempo, que ele vai ver crescer o número de sites “news satire” (notícias satíricas, como o The Onion); desde então “O Bairrista” se tornou um sucesso no sul, enquanto o carioca Sensacionalista ganhava versão em noticiário no Multishow. Humor é uma necessidade absoluta no século XXI, a era da vida em mega conglomerados, do estresse e depressão como doenças das massas urbanas. E também por isso é compreensível que os espaços políticos se assemelhem cada vez mais aos de celebridades, porque as pessoas estressadas evitam polêmicas muito agudas, que aumentem seus sentimentos de revolta e frustração. Não adianta colocar aquele aviso de “é proibido brigar com amigos por causa de política” que já vi no face, esse é um assunto potencialmente tenso. Aprender a linguagem da comunicação eficaz na era da convivência dos contrários e da tolerância com as diferenças, afinal, é uma contingência da nossa época. Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br), é psiquiatra.
|