Nesta terça e quarta-feira (25-26/9), judeus de todo o mundo celebram uma das mais importantes datas do calendário judaico. Trata-se do Yom Kippur, o Dia do Perdão, momento em que Deus faz o juízo das ações de cada um de nós. Momento em que podemos nos arrepender e remediar os erros cometidos. É uma ocasião especial para repensar quem somos, como agimos e o que temos feito para melhorar o mundo. Vivemos tempos difíceis, em que a intolerância contra o Outro vem crescendo novamente no mundo, de modo preocupante. Temos visto fanáticos incitarem o ódio divulgando publicações preconceituosas; e outros fanáticos orquestrando violentas manifestações de protesto que causam mortos, feridos e destruição. Nos últimos dias, manifestantes atacaram várias representações norte-americanas em países islâmicos em protesto pela divulgação de um vídeo, feito nos Estados Unidos, onde o Profeta Muhamad (Maomé), figura máxima do Islã, é ridicularizado, assim como os seus primeiros seguidores. Cerca de 30 pessoas já morreram e dezenas ficaram feridas. A tensão cresceu ainda mais quando, há poucos dias uma revista satírica francesa, de forma irresponsável, publicou charges ofensivas ao profeta. Certamente grupos extremistas vão se aproveitar do episódio para insuflar ainda mais as massas e tentar atingir seus próprios objetivos políticos. Tais fatos revelam um caldo de cultura preocupante. Aprendemos com a História que a intolerância alimenta a intolerância e que a violência é a parteira das tiranias. Se desejamos combatê-las, temos que compreender que todas as crenças, culturas e religiões são dignas e equivalentes, como dizia o grande sábio árabe Averrois, e devem ser respeitadas. A melhor maneira de erradicar o ódio é o conhecimento e a defesa dos direitos humanos, além da promoção da Cultura de Paz, buscando, além da coexistência, o diálogo entre vários credos e culturas. A liberdade de expressão é um valor fundamental, mas não pode ser usada como escusa para a difusão de ideologias racistas ou estimular o culto da violência. De acordo com a tradição judaica, no Yom Kippur, além do jejum de um dia e das orações na Sinagoga, há o toque do shofar, instrumento feito de chifre de carneiro. Seu som anuncia a chegada do ano novo judaico e convoca o povo judeu à reflexão e ao arrependimento, na esperança de receber como sublime presente o perdão de Deus. Que essa importante data do calendário judaico seja um convite, um chamado geral para tal reflexão, não apenas para os judeus, mas para todos. Que o som do shofar ecoe pelos quatro cantos do planeta, de modo que cada ser humano possa buscar em si próprio a resposta para o que deve ser a essência da vida: o que estou fazendo e o que posso fazer para tornar este um mundo melhor... Nota do Editor: Abraham Goldstein é presidente da B’nai B’rith no Brasil.
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