“O CEO é um diretor de cinema”. Esta frase, dita pelo principal executivo de uma das maiores empresas farmacêuticas da América Latina, talvez seja a metáfora mais apropriada para definir esses homens e mulheres que ocupam grandes cargos nas organizações ao redor do mundo. Por meio dela, chegamos a uma conclusão poucas vezes compreendida pelos próprios gestores: a administração não pode nem deve ser entendida apenas como uma ciência. A administração é também uma arte! Mais importante que a própria criação de uma estratégia é a sua implementação - e é justamente durante esse processo que muitas das empresas se perdem e ganham características de “esquizofrenia”. Em uma rápida análise das principais companhias existentes no Brasil, torna-se perceptível que a maioria delas tem na técnica e nas planilhas a sua essência. Mas onde está o valor do indivíduo? Assim como uma partitura musical, a estratégia empresarial pode ser interpretada de diversas maneiras. Sendo assim, é impossível que esse processo seja bem-sucedido sem a presença de um protagonista - no caso, o CEO, que, aqui, deixa de ser um gestor sistemático, preso ao controle da organização, e passa a comandar uma “orquestra sinfônica”, pondo em prática toda sua arte e transformando cada membro da empresa em sujeito sensível, não em um programa de computador. Se deixarmos as técnicas dominarem as empresas, teremos robôs fazendo com que a “pianola toque sempre do mesmo jeito”. Ou seja, os métodos são necessários, porém o mais importante devem ser as atitudes e os comportamentos dos seres humanos. Ao valorizarem demasiadamente a técnica, as organizações passam a agir de acordo com a teoria de René Descartes e sua frase mais famosa: “Penso, logo existo”. O que os altos executivos têm de entender é que esse conceito está ultrapassado. Digo isto, pois o filósofo francês defendia a objetividade e a racionalidade no ser humano, sem valorizar os sentimentos e a subjetividade presentes em cada um. Contudo, o que ele deixou de propagar - e anos depois foi comprovado - é que, antes de pensar, temos emoções, que, necessariamente, são inconscientes. O que vemos, sentimos, ouvimos e gostamos se manifesta em nosso corpo antes mesmo de nos darmos conta. Contrariando Descartes, afirmo que a expressão que melhor explica a administração em uma empresa é “Sinto, logo penso”, defendida por autores como Henry Mintzberg, Antonio R. Damásio e Baruch Spinoza. As empresas que ainda estão centradas na prática da gestão baseada puramente em livros e planilhas podem se tornar reféns do egocentrismo e da esquizofrenia do CEO e, consequentemente, estar fadadas à falência. A forma de agir é, e sempre vai ser, mais importante para a obtenção de resultados. Por isso, caros CEOs, deixem de lado o “by the book” e lembrem-se: são os indivíduos quem constroem as empresas e o mundo. Nota do Editor: Moisés Fry Sznifer é professor dos programas de mestrado e doutorado da FGV e professor visitante da UC Berkeley, nos Estados Unidos. Além disso, é fundador e CEO da Idea Desenvolvimento Empresarial, que há mais de 25 anos atua nas áreas de estratégia e desenvolvimento organizacional. Moisés tem mestrado e PhD pela Universidade de Grenoble, na França, em Businesses e Economics.
|