Costumo dizer que sou contra qualquer tipo de financiamento, pois estamos no Brasil e os juros, ainda que tenham sido rebaixados nos últimos tempos, continuam sendo muito altos. Na tomada de crédito, ou seja, no crediário, aliam-se aos juros da taxa básica da economia negociados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), os altos índices inflacionários e o risco de inadimplência.

Assim, a conjunção de SELIC a 7,25% ao ano, com inflação de 6% ao ano, e 54,15% da população endividada (de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea), faz com que a oferta de dinheiro no Brasil custe facilmente 3% ao mês, podendo chegar a 12% ao mês dependendo da linha de crédito adotada.

Ainda assim, algumas linhas de crédito passam a ser interessantes para aqueles que são minimamente organizados nas finanças, não se deixam levar por impulsos consumistas e sabem identificar oportunidades.

As oportunidades residem justamente nas despesas ou gastos necessários e recorrentes que temos no dia a dia, seja por uma negociação alavancada destas despesas, seja por aproveitarmos oportunidades de compras em promoção.

Um exemplo de uma negociação alavancada pode ocorrer com grande parte dos pais de classe média que colocam seus filhos nas escolas particulares por conta da deficiente oferta pública de ensino de qualidade. Nestas escolas, paga-se as mensalidades e taxas de matrícula entre outros custos envolvidos.

Muitas das escolas, não todas, oferecem descontos de 10%, 15% ou até 20% para pagamento adiantado de matrícula, por exemplo. Esta prática é uma forma que o proprietário da escola tem para segurar o aluno para um próximo ano letivo e também começar sua organização pedagógica.

Muitos pais gostariam de fazer tal pagamento adiantado, mas ao checarem as economias, reservas e as situações financeiras, simplesmente concluem não ser possível fazer tal pagamento adiantado e acabam aguardando o décimo terceiro para se organizarem. O resultado é que acabam perdendo o bom desconto da despesa necessária e da qual não poderão se furtar, que é a matrícula dos filhos na escola particular. Aqui entra o crédito que fará com que você lucre mesmo pagando juros.

Algumas linhas de crédito, como o adiantamento do 13º salário, cobram juros de 1% a 2% ao mês, portanto se você tem desconto de 10% na matrícula de seus filhos é interessante, sim, tomar esta linha de crédito por dois meses e aproveitar o desconto.

Mostrando em números, fica assim: a matrícula custa, por exemplo, R$ 500,00. Pagando adiantado, o desconto seria de R$ 50,00. Assim, o empréstimo seria de R$ 450,00. Os juros, de dois meses sobre o empréstimo, ficariam em R$ 18,18. Desta forma, o lucro da operação seria de R$ 50,00 - R$ 18,18, totalizando R$ 31,82.

Ou seja, você pagou R$ 468,18 e não R$ 500 pela matrícula, uma economia de 6,3% em dois meses. Em termos práticos, seria o mesmo que ter uma aplicação financeira de renda fixa que rendesse 6,3% em dois meses, já livre de imposto de renda.

O mesmo raciocínio pode ser levado para as compras de artigos de primeira necessidade - aquilo que se consome todo mês e que tem um prazo de validade dilatado, como produtos de higiene e limpeza. Se estiver na promoção, faça as contas: Qual a economia? Qual o juro a ser pago? Se o resultado for positivo para você, lucre com o pagamento de juros.

Nota do Editor: Mauro Calil é palestrante, educador financeiro, fundador da Academia do Dinheiro, e autor dos livros “Separe uma verba para ser feliz” e “A receita do bolo”.