Houve uma época em que existia uma separação nítida entre o brincar e o aprender. Hoje, sabemos que é através do ato de brincar que a criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe significado. Toda brincadeira é uma imitação transformada de uma realidade vivida anteriormente. Através da brincadeira, a criança pode experimentar o mundo e formar um juízo pessoal sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos. Mas afinal, de que brincar estamos falando? Qual é o papel da escola nessa situação? Em seu livro "Só brincar? O papel do brincar na educação infantil", a educadora britânica Janet Moyles observa que "O brincar na escola é e deve ser muito diferente do brincar em casa [...]. Na escola, o brincar pode ser exploratório, livre ou dirigido: o essencial é que ele faça a criança avançar do ponto em que está no momento em sua aprendizagem, criando condições para a ampliação e revisão de seus conhecimentos". Aliado à brincadeira, aparece o movimento, que para a criança significa mais do que simplesmente mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica através de gestos e mímicas, usando fortemente o apoio do corpo. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças desenvolvem, também, aspectos específicos da motricidade, enriquecendo seu repertório de posturas corporais. Nesse sentido, é essencial que a escola proporcione a seus alunos da Educação Infantil um ambiente físico onde eles se sintam protegidos e acolhidos e, ao mesmo tempo, seguros para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador é esse ambiente, e quanto melhor for a mediação por parte dos professores (promovendo questões e atividades interessantes), maior será a possibilidade de as crianças ampliarem o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Para Nylse Helena Cunha, fundadora da Associação Brasileira de Brinquedotecas, é importante oferecer às crianças a "oportunidade para que, brincando, liberem sua capacidade de criar e de reinventar o mundo, de liberar sua afetividade e de ter suas fantasias aceitas e favorecidas para que [...] possam explorar seus próprios limites e partir para a aventura que poderá levá-las ao encontro de si mesmas." ("Brinquedoteca - Um mergulho no brincar") Diante dessas premissas, o quadro que se forma é bem claro: o espaço e o tempo do brincar ultrapassam, em muito, a limitada concepção do recreativo, do lazer. Eles devem entrar de forma decisiva na composição do projeto pedagógico das escolas. E contribuir para que os alunos possam vivenciar, de maneira lúdica e agradável, desafios possíveis de serem vencidos, que instiguem a curiosidade e a descoberta e favoreçam a alegria e a auto-estima, tão preciosos nessa fase do desenvolvimento infantil. Afinal, como conclui Nylse Helena, "brincando, a criança aprende com toda a riqueza do aprender fazendo, espontaneamente, sem estresse ou medo de errar, mas com prazer pela aquisição do conhecimento."
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