O Dr. Ulisses cravou a metáfora: política são nuvens, ao exprimir suas mudanças e nuances observadas pelos homens que as contemplam. Um povo calejado por crises e sofrimentos crônicos, porém, não se inclina a alterações bruscas de governo. O receio de perder o pouco conquistado fala muito alto, ainda que se trate de muito pouco e coisas soltas aos ventos futuros, sem sustentação, quando as nuvens se tornarão pesadas e desabarão como borrascas. Os governos do PT não produziram as transformações que apregoam. Tampouco foram os únicos preocupados com o social na história brasileira. Por outro lado, foram bafejados por muita sorte, que também ocupa lugar nos processos civilizatórios. O crescimento médio das riquezas brasileiras a partir do ano 2000 foi de 3,6%. Nada muito diferente, e inclusive inferior, aos demais níveis constatados em países latino-americanos. Em 2010 o Brasil foi adotado como o emergente que poderia ser um instrumento de salvação da crise ocidental; crescimento de 7,5%. Investimentos vieram em massa e a figura de Lula se tornou messiânica em escala mundial. Éramos a bola da vez, mas não fincamos as estacas de uma economia duradoura. Programas tópicos implicaram em frágeis superação da miséria quase absoluta e favelados passaram a ser considerados integrantes de uma fictícia e passageira classe média. Esse modo de aproveitamento dos ventos mundiais que sopraram como brisa agradável para nossas bandas serviu aos fins políticos da coalizão política da ordem e seu projeto de poder. Não nos valemos, porém, dos bons momentos para criar as condições de decolagem deste enorme país. As reformas indispensáveis continuaram no armário. A saúde foi desprezada e seu sucateamento recrudesceu. A educação persistiu em seu caminho de resultados pífios e tortuosos. A indústria foi sufocada pela intervenção estatal, suas imprevisões e consequentes inseguranças. O Estado nunca foi tão aparelhado como o foi na história deste país. A administração pública se transformou num reduto de cabos eleitorais e, por consequência, sua inépcia foi o resultado inevitável. Basta conferir a jurisprudência do Tribunal de Contas da União para se constatar a enormidade dos agravos perpetrados contra o bem comum, o número inaceitável de licitações anuladas, de aditamentos contratuais írritos e o inevitável empacamento das obras públicas, resultante de uma bandalheira nacional ou de pura e simples inaptidão para fazer fluir com proficiência os atos administrativos. Não se contestam os fatos salutares consistentes em remediar o estado de uma população extremamente sofrida, com a redução do desemprego e a melhora de seu poder aquisitivo, em função do qual os brasileiros puderam vestir roupas mais dignas, enfrentar as carências alimentares, praticamente generalizar o uso de celulares, dar-se ao lazer ante televisores led e ter acesso a outros bens materiais que amenizam as vidas. No entanto, o grave problema é a criação de um estado de coisas efêmero, por falta dos pilares infraestruturais sem os quais não se viabiliza a vida de uma nação: estradas rodoviárias e de ferro, hidrovias, portos, aeroportos e meios adequados e avançados de superação dos gargalos nas grandes cidades. Indissoluvelmente vinculados à possibilidade dessas realizações, estão o combate implacável à corrupção, a modernização do poder judiciário, a reforma política que só será reforma se erradicar privilégios etc. E o aspecto fundamental, que o PT assimila aos trancos e barrancos: deixar fluir a iniciativa privada sem os sobressaltos gerados iterativamente por atabalhoadas intervenções estatais e marcos tributários imprecisos e essencialmente confiscatórios. Essas providências no campo dos fundamentos não foram objeto de aproveitamento ao tempo das vacas gordas. Agora é tarde. O PIB de 2012 não passou de ínfimos 0,9%. A inflação nos ameaça, e até mesmo bolhas imobiliárias, que esperamos não ocorram. O mundo vê com outros olhos o Brasil e seu PIB inexpressivo. Prefere, por exemplo, voltar suas vistas para o México, que produziu algumas dessas mudanças indispensáveis, quando, à época em que comemorávamos, estava tomado pelo narcotráfico. Resulta do exposto que as atuais pesquisas eleitorais são garatujas. De nada vale dizer que falta apenas um ano para as eleições. Será um ano tormentoso. As nuvens poderão ficar carregadas e despencar sob a forma de violentas tempestades. Obviamente que esse não é nosso desejo, mas as causas existem em profusão. Em tal hipótese, tais pesquisas serão levadas pelas enxurradas. Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.
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