A cada três anos, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que reúne 31 países do primeiro mundo, realiza uma avaliação nos seus estudantes de 15 anos (PISA). A intenção é medir a aprendizagem nas áreas de leitura, matemática e ciências em amostras randomizadas para cada país, de forma a conhecer e contribuir para o crescimento das competências importantes aos cidadãos do nosso mundo, de uma forma geral. Além dos 31 países-sócios da OECD, em 2003 participaram do PISA mais 10 países: Rússia, Latvia, Servia Montenegro, Macau, Hong Kong, Indonésia, Tailândia, Tunísia, Brasil e Uruguai. Há uma infinidade de dados muito interessantes que são produzidos a partir do PISA, tanto do ponto de vista de cada país em si como do ponto de vista internacional. No entanto, o pouco rendimento dos jovens brasileiros, quando comparados aos outros países analisados, é salientado como evidência de fracasso: o que alimenta um exagerado sentimento de inferioridade, autocrítica improdutiva e desalento. Soluções não aparecem. Quando os alemães se depararam com um resultado do PISA aquém do que esperavam, verificaram imediatamente quais as escolas cujos alunos haviam obtido as melhores performances naquela avaliação. Analisando o ensino nestas escolas, buscavam pistas que apontassem as estratégias que garantiram os resultados melhores com aqueles alunos e que poderiam então, ser socializadas para todas as escolas do país. Um dado interessante que se destacou é que as escolas cujos alunos atingiram melhores resultados em geral estimulavam a participação dos mesmos nas decisões da instituição, a resolução de problemas práticos em atividades da vida diária, a iniciativa, a autonomia, a autoconfiança e a ousadia. A Associação Educacional Labor, que se formou em torno da busca de soluções para os alunos mal-sucedidos na rede pública de ensino brasileira, também percebeu a fundamental importância destas qualidades para a aprendizagem e para o sucesso nas avaliações. Incentiva a participação dos alunos e suas famílias nos trabalhos e nas decisões da escola, aponta a importância da aliança entre teoria e prática, propõe a inclusão no currículo de uma série de conteúdos que envolvem atividades da vida diária e resolução de problemas práticos do cotidiano, incentiva as escolas a desenvolverem projetos com a finalidade de aumentar o protagonismo, a autonomia e a criatividade dos seus alunos. Por outro lado, também percebeu que o sentimento de inferioridade, a descrença em si e o conformismo com o fracasso são os maiores obstáculos para se progredir e ter sucesso em qualquer empreendimento e que a maioria das nossas escolas públicas está cheia de alunos com tais sentimentos. Finalmente, descobriu que há um número escandaloso de professores brasileiros nas mesmas condições: humilhados, descrentes, conformados com o insucesso dos seus alunos e com o próprio fracasso. Professores que não esperam nada dos seus alunos e sabem que serão sempre apontados como os responsáveis pelos lamentáveis resultados da educação no nosso país. Desde 1996, a A. E. Labor vem trabalhando com professores de escolas públicas procurando, com eles, desenvolver novas formas de ensinar e de promover o sucesso. Oferece capacitação gratuita para estes professores, trabalhando diretamente nas escolas e à distância, através de projetos especiais para cada caso e financiados por doadores ou fundações. Trabalhar com escolas públicas nas comunidades mais carentes de diversas regiões do Brasil foi uma iniciativa que envolveu muitos desafios e descobertas. Sem dúvida, a descoberta mais surpreendente foi a enorme riqueza de talentos e conquistas que desabrocham entre alunos e professores quando se sentem reconhecidos, valorizados e confiantes de que podem ter sucesso. Nota do Editor: Margarida Maria Pompéia Gioielli é consultora da Associação Educacional Labor.
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