Em entrevista exclusiva à Agência Viva Brasil, o especialista em Semiótica, Prof Luiz Carlos Iasbeck, da Universidade Católica de Brasília (UCB), afirma que o governo e a classe política estão usando o referendo sobre a comercialização de armas como Pilatos, que lavou as mãos sobre a condenação de Jesus Cristo. "Referendo é uma pilatocracia, é coisa de Pilatos, que lava as mãos, livra a cara e impõe à população uma resposta reducionista, tipo sim ou não, a uma questão complexa". Iasbeck explica que a complexidade da questão sobre criminalidade e violência precisa de um debate em que sejam levadas em conta todas as nuances e as ambigüidades que envolvem o tema, pois o homem, o ser humano, é mais do que uma alternativa binária, como sim ou não. "O referendo não sintetiza o debate", afirma Iasbeck. Segundo ele, há questões que não devem ser radicalizadas, uma vez que segurança é um atributo da vida humana e que promover segurança é atributo do Estado. Para ele, a função do Estado é trabalhar causa e conseqüência, fortalecendo a cidadania a partir da valorização dos estudos, da vida, do emprego, das condições de vida como casa, transporte, saneamento. "Tirar a arma é trabalhar no ponto terminal da violência", afirma o especialista em Semiótica. Iasbeck explica que a arma é um sintoma de um grande problema e que, por isso, levar em conta a arma como o ponto crítico é ver de menos a extensão do problema, a complexidade do problema. "Essas questões não devem ser radicalizadas e isto inviabiliza o referendo", diz Iasbeck. Segundo ele, num referendo, a população será constrangida a uma resposta que não se resolverá com a simplicidade de nenhuma das duas perguntas que estão em jogo no Congresso Nacional. "Uma peca pelo descaramento da indução e a outra pela armadilha da comparação de que a defesa da vida vale tanto quanto a defesa do patrimônio" comenta o especialista em produção dos sentidos, Luiz Iasbeck. Ele explica que a pergunta originária do Senado: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?" Está radicalmente negando e induzindo a uma única resposta: a proibição. Explica também que a segunda pergunta, originária do substitutivo da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, "Deve ser proibido em todo o território nacional o comércio de armas de fogo e de munições a pessoas para sua legítima defesa e de seu patrimônio, na forma da lei?" conduz a uma análise. Para Iasbeck, a pergunta apresentada pelo deputado Wanderval Santos (PL-SP) permite que o cidadão se sinta chamado a dar sua opinião, seu posicionamento, e a conhecer os dispositivos de lei que asseguram a legítima defesa. Iasbeck alerta que, apesar desse lado positivo, a pergunta formulada pelo deputado iguala a vida ao patrimônio. "Ao acreditar nisso, o cidadão pode matar por um vídeo cassete, por um par de tênis, porque ter uma arma é a possibilidade da agressão, da violência", diz. Iasbeck entende que as duas perguntas têm problemas. "A primeira induz que o cidadão responda o que é correto responder e a segunda deixa o cidadão com uma só alternativa", explica. E conclui: "O tema é polêmico para levar a uma resposta reducionista". Nota do Editor: Luiz Carlos Iasbeck é doutor em Semiótica pela PUC-SP, coordenador do MBA Comunicação da UPIS-DF e professor de Comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB). É também autor de A arte dos slogans e Administração da Identidade (no prelo), ambos da Editora Annablume, de São Paulo.
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