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Religião
11/04/2014 - 10h00
Anchieta: o lado `B´ do Santo
Lidice Meyer Pinto Ribeiro
 

A partir do dia 03 de abril de 2014, depois de Madre Paulina e Frei Galvão, o Brasil passa a ter um terceiro santo canonizado: José de Anchieta. A vida de Anchieta traz consigo diversos questionamentos, muitas vezes desconhecidos do público geral.

Nossos livros escolares de história, sempre trazem uma versão oficial da vida deste padre como catequizador e educador dos povos indígenas brasileiros. Mas, basta uma pesquisa um pouco mais profunda nos livros de grandes historiadores brasileiros, para se descobrir o lado “B” desta história.

José de Anchieta nasceu em 1534 na Espanha e tendo ingressado na ordem Jesuíta da Companhia de Jesus, chega ao Brasil aos 19 anos de idade, pouco tempo depois de Padre Manoel da Nóbrega que havia vindo junto com a comitiva do primeiro governador Geral, Tomé de Souza.

Já no Brasil, Anchieta segue o projeto jesuítico de colonização proposto por Nóbrega em 1558. Este projeto permitia a escravização dos indígenas e impunha às tribos “pacificadas” práticas como a de andarem vestidos, terem apenas uma mulher, fazerem-se cristãos e colaborarem com os portugueses nas guerras contra seus inimigos. Este projeto deu autoridade ao então governador Mem de Sá para atacar e destruir cerca de 300 aldeias da costa brasileira no século XVI.

Anchieta em sua “informação dos primeiros aldeamentos” registra que a população indígena dos arredores da Bahia foi reduzida de 80 mil pessoas a menos de 10 mil. É também de Anchieta os 2 mil versos de louvor a Mem de Sá, no poema “De Gestis Mendi de Saa”, escritos em 1560: “Quem poderá contar os gestos heroicos do Chefe à frente dos soldados, na imensa mata: Cento e sessenta as aldeias incendiadas, Mil casas arruinadas pela chama devoradora, Assolados os campos, com suas riquezas, Passado tudo ao fio da espada”.

Anchieta, à frente de uma missão onde haviam juntado à revelia índios oriundos de tribos diversas, separando as crianças dos pais com o intuito de educá-las na santa fé católica, servia também como arregimentador de tropas indígenas a serviço da Coroa Portuguesa.

Darcy Ribeiro no livro O Povo Brasileiro, registra um episódio ocorrido em Peruíbe, quando Anchieta, fazendo-se passar por um pai milagroso corria de um lado para outro incentivando os índios a lutarem pelos portugueses, atribuindo-se a Anchieta nesta ocasião ter salvo São Paulo e a própria colonização portuguesa.

Após anos e anos, os jesuítas chegam a conclusão de que não haviam conseguido salvar as almas e nem as vidas dos índios, ceifados pelas guerras, pela escravidão e por doenças, muitas das quais trazidas involuntariamente pelos próprios padres.

Por fim, resta-nos relatar o episódio em que Anchieta, ao assistir ao enforcamento do calvinista Jean Jacques Le Balleur, um dos huguenotes sentenciados por Villegaignon após terem celebrado a primeira santa ceia protestante em território brasileiro, teria se apressado a colaborar com o carrasco no cumprimento de seu dever.

Conta o Frei Vicente do Salvador, que testemunhou o episódio: “Vendo ser o algoz pouco destro em seu ofício, e que se detinha em dar a morte ao réu e com isso o angustiava e punha em perigo de renegar a verdade que já tinha confessada, repreendeu o algoz e o industriou para que fizesse com presteza o seu ofício”.

São estes alguns dos fatos que nos levam a repensar o que leva alguém a ser considerado um santo. Anchieta está mais para um homem como todos nós, com seus dilemas, suas falhas e não se pode esquecer, agindo dentro de um contexto histórico-cultural do século XVI, envolvido em questões políticas diferenciadas e tentando se relacionar com um povo indígena, do qual pouco se entendia e a quem muitas vezes foi negada a posse de uma alma humana.


Nota do Editor: Lidice Meyer Pinto Ribeiro é Doutora em Antropologia Social, Pós-Doutoranda em Antropologia e História; e Docente do Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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