Uma das maiores dificuldades em se pesquisar a questão do suicídio é o tabu que o cerca. O suicídio é visto, ainda nos dias atuais, como um fracasso do indivíduo que o comete e condenado pelas religiões como ato proibido, profano, covarde.

Enquanto muitas religiões condenam o suicídio por entender que a vida pertence a Deus e, portanto, não caberia ao homem decidir pelo seu fim, o senso comum vê como ato de covardia ou de muita coragem.

Compreende-se que o suicídio é um ato de desespero e acabar com a própria vida é a forma encontrada de eliminar a dor ou um sofrimento insuportável. Outra forma de se compreender o suicídio é vê-lo como uma “solução” que o indivíduo dá diante de dois caminhos opostos. Ele escolhe o “caminho do meio”. No filme “Sociedade dos poetas mortos”, um dos jovens quer fazer carreira de teatro, enquanto que seu pai quer vê-lo em uma profissão tradicional e se opõe à sua escolha. O jovem fica entre o desejo de seu pai e o seu próprio desejo e, culpado por não realizar nenhum dos dois, encontra no suicídio uma saída ao conflito.

Como se vê, o suicídio é a recusa a se viver uma determinada vida ou a recusa a um determinado modo de vida.

O suicídio também é um fenômeno cultural e, como tal, varia de acordo com a cultura e a história da humanidade. Alguns exemplos disso foram os samurais, os pilotos kamikazes, os homens-bombas que tiram a própria vida por questões que transcendem suas questões pessoais e vão muito além de conflitos psicológicos.

Por fim, o suicídio é um tema pouco discutido, mas uma ocorrência mais comum do que imaginamos.

Nota do Editor: Aurélio Melo é professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui graduação em Psicologia pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (1990), mestrado (1999) e doutorado (2013) em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.