A demanda por habitações, em especial nos grandes conglomerados urbanos, é um problema que está longe de ser resolvido com a atual política de crédito implementada pelo governo. Os programas habitacionais funcionam muito bem em pequenas e médias cidades, e nas periferias ou bairros afastados de centros urbanos. Entretanto, existe uma grande lacuna a ser preenchida: a habitação para a classe média. Pessoas com renda entre R$ 1.500 e R$ 4.000 têm, em sua maioria, enorme dificuldade de obter crédito farto e barato. A oferta de imóveis com preços compatíveis com a renda e boa localização não é tão abundante quanto fazem crer as páginas de anúncios dos jornais. Aliás, uma análise superficial deixa a nítida impressão de que a maioria dos lançamentos se destina a pessoas com altíssimo poder aquisitivo, uma indicação da enorme concentração de renda que domina o país. Outro obstáculo enfrentado pela classe média é o do chamado período de transição, um desafio para quem mora em imóvel alugado. Como conciliar, no orçamento doméstico, o valor da locação com a formação da poupança necessária à obtenção do financiamento? Diante dessa dura realidade, ganha cada vez mais força um modelo de negócio que, bem estruturado e administrado de forma eficiente, pode resolver essa questão, ou pelo menos minimizá-la. É o sistema cooperativo habitacional, que tem revelado um grande impulsionador do setor imobiliário. É uma opção sólida, que pode atender à classe média e a outros tantos que sofrem com o problema da falta de moradia. Com a possibilidade de participação cooperada de todos os interessados no empreendimento, somada à discussão sobre os investimentos, chega-se ao final de uma obra a uma economia de até 40% (sobre a média padrão de mercado). Isso é mágica? Não. Com o gerenciamento do empreendimento pela própria sociedade, com a coordenação do perfil de associados, criando-se projetos direcionados à necessidade identificada, mais a ausência de agentes intermediadores (corretoras, agentes imobiliários etc.), pode-se chegar facilmente à cifra de economia apontada acima. Contudo, não se deve criar uma pronta ilusão de que o sistema habitacional gerido por essas cooperativas é a saída para resolver o déficit habitacional. Projetos estruturados e cooperativas sérias são partes essenciais para o resultado almejado. Muitas cooperativas foram planejadas tão somente com o intuito escuso de angariar capital. Entrega da obra? Até hoje, muitos cooperados iludidos recorrem à justiça - quando podem - atrás de seus prejuízos. Mas isso é uma questão de cultura. Basta procurar saber o índice de comparecimento e participação dos sócios-cooperados nas Assembléias da cooperativa. Tal qual uma reunião de condomínio, onde uma minoria aparece e uma maioria - que se absteve - reclama, o sistema cooperativo também sofre com a falta de acompanhamento de seus participantes. Ora, há que se entender que sendo uma cooperativa habitacional um empreendimento econômico, cujos "donos" são os próprios sócios-cooperados, a necessidade de constante participação se faz imprescindível para que os objetivos dessa "empresa" sejam alcançados: moradia de melhor qualidade e menor preço. Nota do Editor: Daniel Augusto Maddalena é consultor especializado em cooperativismo.
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