Conquista da administração ou promessa de campanha?
A crônica política eleitoral resolveu, de supetão, levantar-se horrorizada contra o uso de fotografias de bancos de imagens por candidatos dos mais variados partidos em sua propaganda eleitoral. A Folha de São Paulo do dia 25 de setembro traz matéria em que demonstra que diversos candidatos recorreram a imagens alugadas para turbinar suas campanhas eleitorais. O mesmo jornal retomou o tema em seu editorial de 26/9. “A repercussão dessa revelação nas redes sociais e as reações inflamadas parecem ter, quase sempre, tirado o foco da questão central, o uso dos bancos de imagens”, afirma o professor Celso Figueiredo, professor de Comunicação da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Bancos de imagens, entre eles o Shutterstock, alvo das críticas atuais, são usados por todas as agências de publicidade quando precisam de uma imagem “para ontem” para ilustrar um anúncio. Gente feliz, casais apaixonados, famílias sorridentes, bebês fofos, vovós carinhosas de todas as cores e idades estão disponíveis para download nesse e em dezenas de outros bancos de imagens usados cotidianamente pelas agências de propaganda. E é infinitamente mais barato do que produzir uma foto com qualidade. É assim que são vendidos, todos os dias, anúncios de apartamentos a sanduíches; de remédios a planos de saúde; de escolas a intercâmbios internacionais. Segundo o professor, a polêmica que se estabeleceu nessa acirrada guerra eleitoral sobre as imagens usadas nas campanhas políticas parece ter perdido o foco. Aparentemente, pouco importa se o modelo da foto é brasileiro, nigeriano ou francês. Ele é apenas uma pessoa com as características demográficas adequadas para a mensagem que aquele candidato quer passar. Não há nada de errado com isso. É, para pegar o exemplo da foto exibida pela reportagem, uma jovem negra grávida, que está fazendo, sorridente, seu exame de ultrassom pré-natal. “A questão não é se a imagem foi comprada em um banco de imagens, ou se a modelo é ou não uma eleitora brasileira. A questão que me parece central é se o candidato está ‘vendendo’ a ideia de que o atendimento de saúde que aparece na imagem é uma conquista de sua administração ou se é uma promessa de sua campanha. A reportagem pareceu se eximir dessa questão e preferiu atirar contra o uso das fotos de bancos de imagens, um alvo mais fácil”, avalia Figueiredo. O professor diz ainda que passou da hora de termos uma visão menos ingênua em relação à publicidade, pois todos sabem que o discurso publicitário enriquece, exagera e embeleza seu produto, ao ponto de fazer, mentalmente, uma operação de relativizar o valor, a beleza e a importância daquilo que é divulgado pela publicidade. “Só um ET levaria ao pé da letra aquilo que é dito pela publicidade. Há uma liberdade poética que quase sempre admite exagero e grandiloquência. Ou será que todos acreditamos nas imagens apetitosas da publicidade de fast food, ou nas promoções imperdíveis daquela fantástica operadora de celular? O mesmo – ou até mais – ocorre com a propaganda política. As agências embelezam as mensagens de seus candidatos. Eleitores relativizam essas mensagens. Mídia e partidos opositores esperneiam. Mas será que é relevante?”, conclui.
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