Há muitas décadas li num jornal, no momento não me recordo qual, uma reflexão de um especialista em educação sobre a qualidade do ensino no Brasil. Passaram-se muitos anos e constata-se que o padrão desejado está muito aquém do necessário para o preparo do cidadão conviver com civilidade e habilitar o indivíduo para o mercado de trabalho. A questão que aí está colocada nos remete às causas desta situação.

De que forma pode-se melhorar? O Estado deve entender que a educação é um investimento, não apenas social e sim político e econômico. Deve abster-se de influências políticas e ideológicas tanto na composição de seus quadros gerenciais, bem como na elaboração dos conteúdos e avaliações. Deve também respeitar projetos vitoriosos dando-lhes continuidade e não realizar mudanças ao gosto de cada gestão política.

Diante disso, de modo geral, contamos com dois tipos de escolas: a de qualidade, oferecida pelo setor privado e financiada pelos pais, e a pública que, por falta de verbas, treinamento gerencial e aperfeiçoamento dos professores demonstra suas falhas. Os envolvidos na educação pública acusam-se ou reivindicam melhores salários e condições de trabalho.

Ainda neste quesito, o quadro de gestores deve ser composto por pessoas que já estiveram no “chão da escola”, que atuaram em sala de aula ou participaram de projetos da comunidade escolar. Caso contrário, ocorre o encastelamento desses grupos que enviam ordens, normas e projetos de gabinete sem conhecerem as reais possibilidades de cumprimento ou execução.

Os professores devem perceber que o processo ensino e aprendizagem foi invadido por responsabilidades que não cabem à categoria, como a terceirização da educação familiar e a imposição gerencial para realizar tarefas que não pertencem à sua função. Cabe ao professor exigir de seus sindicatos ofertas de cursos, de simpósios e congressos que possam ampliar seus conhecimentos e exigir de seus gestores mais próximos, um trabalho de bastidores que facilitem a ação pedagógica, atuação aliás obrigatória de sua função!

Os pais devem ser orientados, via mídia ou reuniões nas unidades escolares, a participarem da vida de seus filhos, a fiscalizarem a unidade escolar e, sobretudo, darem exemplo de cidadania no lar e em sua comunidade. E cabe a eles também, imporem limites para ensinar seus filhos a ter habilidades de lidar com decepções.

O aluno mudou, com seu celular à mão. A pedagogia social o ensinou utilizando as TICs e a partir daí eles não aceitam mais as antigas metodologias pedagógicas. Se já é difícil para os adultos aprenderem a conviver e harmonizar as velhas ações pedagógicas com as novas, para o jovem parece impossível, pois a juventude hoje tem pressa e quer a pronta substituição dos modelos. No entanto, devemos todos conviver com a transição, e a nós professores cabe a tarefa de encontrarmos um caminho para mediar o velho com o novo. Este trabalho não é fácil, não deve ser realizado pelo professor individualmente.

Penso que cabe a todos os envolvidos na educação, cobrarmos do Estado uma revolução educacional que atenda as necessidades do cidadão deste século. Nada de preciosismos, de teorias da moda, de psicologismos. Precisamos enfrentar os problemas educacionais com simplicidade (mas não de modo simplista!), de forma democrática, e tendo como foco atender as necessidades sociais e culturais de nosso povo.

Nota do Editor: Walkiria Savira Belapetravicius é professora do curso de Pedagogia da Universidade Anhanguera de São Paulo, unidade ABC.