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Religião
16/07/2015 - 16h05
O sofrimento é escola e não castigo
Eurico dos Santos Veloso
 

Em postagens no Facebook, pessoas que se identificaram como ateias disseram que jamais foram assaltadas, mas o Cardeal Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, havia sido duas vezes, em menos de um ano. Ante tal comparação, é importante afirmar que ele, vítima da criminalidade que afeta milhares de cariocas, apresentou a Deus esse sofrimento em favor da paz na cidade.

Diante da aflição alheia, em especial gente de fé, há sempre quem pergunte: “Como uma pessoa de Deus pode sofrer algo assim? Não poderia Ele, todo poderoso, livrá-la desse mal, uma vez que eu, um simples descrente de tudo, não sofro assim”? A filosofia e a teologia fazem reflexões sobre o problema, com argumentos que não respondem cabalmente a questão, pois ela pertence, em sua essência, aos insondáveis desígnios de Deus. Porém, lançam luzes sobre o enigma e nos encorajam a não esmorecer frente aos percalços, dos quais ninguém está isento.

Na tradição cristã, vemos que Deus não tira o sofrimento da vida do ser humano, mas o transfigura. Sim, o mal é uma desordem que Ele não quer, mas, em sua sábia providência, permite e acompanha, para nos levar a uma melhor realização; não sofremos em vão (Santo Agostinho. Livro sobre a fé, a esperança e a caridade, cap. 27), mas em união com o próprio Senhor Jesus, que nos mostrou a importância de padecermos com Ele, para nos tornar coerdeiros do Reino (cf. Rm 8,17). Aliás, Deus não prometeu uma vida de mera prosperidade na Terra aos que se fizeram seus discípulos. Ao contrário, convida-nos a tomar a nossa cruz e segui-Lo (cf. Mt 16,24) e não nos gloriarmos senão na sua cruz (cf. Gl 6,14), que é escândalo e loucura (1Cor 1,18-25), mas também instrumento de salvação.

O Pai que ama os filhos deseja educá-los, aplicando-lhes a devida correção, que pode trazer sofrimento, a fim de fazê-los cada vez menos mesquinhos e mais nobres, para que possam ir se assemelhando a Ele na santidade. Daí, o autor da Carta aos Hebreus ter escrito com linguagem forte aos sofredores de seu tempo, algo que também serve a nós hoje: “Vós esquecestes a exortação que vos foi dirigida como a filhos: Meu filho, não despreze a correção do Senhor, não desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor educa a quem ama e castiga a quem acolhe como filho. É para a vossa correção que sofreis. Deus vos trata como filhos. Qual é, com efeito, o filho cujo pai não corrige?” (Hb 12,5-11). Não é cabível queixar-se de Deus sábio e santo ou questioná-Lo com petulância sobre as razões de nossos sofrimentos e dos problemas alheios, pois ainda que não entendamos o porquê desta ou daquela dificuldade em específico, temos a certeza de que o Senhor deseja purificar-nos. Só o Juízo Final revelará tudo, conforme o Catecismo da Igreja Católica, n. 1040.

Sabemos que o Cardeal Tempesta perdeu para os assaltantes a cruz que recebera, em 2003, em visita “ad limina” que fez ao Papa João Paulo II. Em recente catequese, ele relatou: “Era uma recordação de um grande amigo e do chamado à santidade. É claro que o sentido continua, pois não está no objeto que se perdeu. A imprensa deu grande destaque a esse símbolo que me foi subtraído. Porém, faço um pedido: que, por onde estiver, ajude muitos jovens no encontro com Jesus Cristo, que deu sua vida na Cruz e que, como passou pelas mãos do Papa Santo, São João Paulo II, leve as pessoas a serem santas! Que chegue aos corações de muitos e toque a vida das pessoas”.

A propósito da pretensa “imunidade” dos cristãos ante o sofrimento, especialmente daqueles que trazem consigo algum símbolo religioso (sacramental), o Pe. Marcel-Marie Desmarais, OP, assegura o seguinte: “Creio piamente nas intervenções miraculosas de Deus, mas digo e repito, pela centésima vez, que Deus não é um robô, que se ponha automaticamente em funcionamento. Deus é um Pai. Sabe melhor do que nós o que precisamos, sobretudo tendo em vista a salvação da nossa alma, bem mais do que os bens materiais a que tanto nos apegamos” (Clínica do coração. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1979, p. 12-13).

O cristão reflete sobre tudo isso e busca, apesar de sua condição de criatura limitada, realizar os planos de Deus em sua vida. Ele não procura o sofrimento à moda de um sádico, mas, ainda que licitamente o combata, tenta, sem revoltas, entendê-lo dentro dos sábios planos divinos, buscando forças para suportá-lo na oração contínua e na prática dos sacramentos, especialmente da Confissão e da Eucaristia. Afinal, na comunhão ele recebe o próprio Cristo em seu corpo, sangue, alma e divindade, como alimento e sustento para as agruras desta vida em demanda da pátria definitiva.

Sem essa força divina, o ser humano pode tornar-se alguém mesquinho, que só reclama, critica ou mesmo blasfema frente aos problemas que o angustiam, mas não encontra a força necessária para vencê-los, caindo, por isso, não raras vezes, em terríveis desatinos, até mesmo em suicídio. Por isso, agradecemos a Deus o exemplo de serenidade de nosso amado irmão Cardeal Tempesta, que nos ensinou a ir ao encontro de Cristo, a sermos santos, a praticarmos o bem e a confiarmos em Deus, porque Ele sempre guia nossos caminhos! O sofrimento e a perda da cruz peitoral do arcebispo nos matriculam na escola de Jesus, que nos chama a vivermos como irmãos!


Nota do Editor: Dom Eurico dos Santos Veloso, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Juiz de Fora (MG).

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