"Lutem por um bairro melhor para que vocês possam reagir. Não deixem o Ipiranguinha virar um bairro como o meu (Capão Redondo). A periferia não é um lugar que deram pra gente viver e sim um lugar que nos deram para morrer". Esta foi uma das falas do escritor Ferréz na palestra realizada no dia 04/05 na Escola Estadual "Idalina Graça", no bairro do Ipiranguinha. Na noite seguinte esteve na Escola Estadual "Capitão Deolindo de Oliveira Santos". Ferréz é colunista da Revista Caros Amigos e autor dos livros "Capão Pecado" e "Manual Prático do Ódio". Este segundo livro estava com a primeira edição esgotada e seus direitos autorais foram vendidos para a realização de um filme. Sua revista "Literatura Marginal" foi considerado o melhor projeto de literatura de 2001 pela Associação dos Críticos de Arte de São Paulo. Também escreveu um dos roteiros da mini-série "Cidade dos Homens" produzida pela Rede Globo. Nas duas palestras, além da questão da violência, da sexualidade, da mídia e das drogas, Ferréz enfocou a cultura HIP HOP e a importância da literatura para a formação e humanização da pessoa. Rememorando a sua trajetória de menino pobre, filho de faxineira, ele conta que o gosto pela leitura e a escrita do livro "Capão Pecado" é que lhe abriram as portas para uma vida melhor. Chegou a ganhar dez mil reais por uma palestra na Europa e a circular pelos lugares mais badalados do Brasil e da Europa. Entre seus amigos, estão Paulo Lins, autor de "Cidade de Deus" e Arnaldo Antunes. Para ele, um dos livros mais importantes foi "Madame Bovary", de Flaubert. Como morador da favela, estudante de escola pública, nunca imaginou que iria circular e conhecer os ambientes descritos nesse livro. Cada livro é uma janela para o mundo e para cada pessoa há muitas janelas nas livrarias e bibliotecas. Sua maior frustração seria não convencer pelo menos um jovem a começar a ler. É necessário investir no sonho e acreditar em si mesmo. Nas duas palestras, o interesse demonstrado pelos jovens foi muito grande, não havendo barulho e interrupções durante sua fala. No Ipiranguinha, a palestra foi no pátio da escola e quando se abriu o debate com a platéia, a mesa ficou cheia de papéis com perguntas elaboradas pelos participantes. No Deolindo, a participação foi limitada para permitir um clima de mais aconchego entre o escritor e os participantes, criando um clima de conversa e de intimidade. Estas duas palestras contaram com o apoio da Fundart - Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba, da Coordenadoria da Mulher e da Secretaria de Educação de Ubatuba e fazem parte da proposta de descentralizar a ação da Fundart, articulando-a com outros órgãos da Prefeitura e com outras instituições.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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