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COLUNISTA
Nenê Velloso
01/01/2016 - 08h19
Bem lembrado, José Ronaldo!
 
 

Eu também sou do tempo do seu parente o “Mané Aguado”, que deveria ser uma figurinha de marca registrada, aqui na cidade nós também tínhamos uns caras desse, mas o seu parente extrapolou tudo!

O Guaruçá” está carente de relatos sobre coisas da nossa terra, e verdadeira, é isso que os leitores querem (eu suponho, né?), saber coisas da vida, do cotidiano da cultura caiçara sem mentiras. Sempre sou questionado nas ruas, por telefone ou e-mail, tem leitores querendo saber sobre matérias estritamente do passado, presente e futuro da cidade, e se os meus relatos vão continuar construindo o passado II-III-IV, os prefeitos de Ubatuba de 1948-2006, construindo o passado de 1964/2004. São fatos que aconteceram, e não posso mudar só para agradar essa meia dúzia que vive no anonimato da história relatando fatos que não aconteceram na cidade, só tapando o sol com a peneira não só de alguns políticos do passado, mas também pessoas que não contribuíram em nada para a cidade. Até os blocos carnavalescos (bloco de rua), que era o divertimento dos caiçaras e o ponto alto do nosso carnaval, conseguiram dar fim, foi substituído pelas escolas de samba lá do Rio de Janeiro. O que nós temos com isso? E a cidade aceitou!

Hoje eu sinto falta do meu colega de trabalho na prefeitura, nas pescarias e no cotidiano, hoje se vivo fosse, poderíamos escrever grandes relatos dos bastidores da cidade até onde a censura permitisse. Esse colega se chama Benedito Ignácio Pereira (BIP). A natureza foi ingrata ou sábia com ele ao transportá-lo para a eternidade antes do combinado?
Você lembrou bem, “Graveto”, e suas serventias. Esse relato é uma volta ao passado vivo, dos costumes dos caiçaras, das praias e dos sertões, e não era diferente aqui na cidade, era assim que funcionava. Sem falar nos apelidos, as crianças muito magras era só entrar na escola, que já saíam batizadas de “Graveto”.

A sua matéria não só serviu para as finalidades que você indicou, mas foi além de atiçar o fogo do fogão a lenha da manhã, para passar aquele café de garapa, atiçou também a minha memória, caiçara da gema e do Centro, que depois dessa matéria eu vou mudar para o Núcleo da Gema do Centro, das praias e dos sertões.

Há muitos anos atrás, eu ainda era um garrote, brilhantina Glostora no cabelo esvoaçado, e para assentar eu usava uma touca de meia, bons tempos aquele.

Em um fim de tarde do verão de 1955, como dizia João Portugal, o pescador e o maior mestre em fazer tarrafa aqui do Centro sempre que iniciava um relato de uma pescaria ou caçada essa era introdução “O sol ou a lua, já estava se encravando a uma braça acima da serra”. Que cálculo!

Eu estava brincando sozinho ali na praia em frente ao cruzeiro, mas, “nessas águas em volta” (termo usado pelo caiçara João Portugal), chegou outro colega o Irineu hoje mais conhecido por Pepe, irmão do ex-vereador Tuta, família de migrantes da cidade de Taubaté que chegaram aqui por volta de 1949.

O pai, o Sr. Osmar Carneiro, policial militar, linha dura, e até hoje o seu nome é lembrado pelos caiçaras ou por quem o conheceu, todas as vezes que há uma confusão de trânsito ou uma briga de rua, um desrespeito da ordem pública por menor que seja e, o infrator saía impune, logo se diz – Ah... o Osmar Carneiro agora aqui!

Irineu sentou-se ao meu lado no imenso banco ali existente encostado na amendoeira que ainda está ali por testemunha, o local hoje se encontra descaracterizado por ação dos maus políticos e os “bons” ficaram calados, então ficamos observando que na transparência das ondas, passava cardumes de panaguaiú da ponta do bico vermelho alaranjado e peixe-rei, vou mostrar a (foto) porque o peixe tá difícil!

Comentei o fato com a minha mãe e ela disse: – Faça como as crianças da Picinguaba e Ubatumirim: Eles pegavam uns gravetos que encalhavam no jundu, faziam uma cruzeta, amarravam um pedaço de linha de um palmo com anzol em cada extremidade nas quatro ponta, da cruzeta, uma bissaca de pano no ombro para guardar o peixe, entravam no mar com água pela cintura, punham as iscas, na maioria das vezes de camarão, jogavam a uns dois metros do corpo e era só esperar, não mais que um minuto a cruzeta afundava, é só nadar atrás e retirar os peixes”.

E assim fizemos, às vezes dava trabalho porque tinha que sair nadando atrás e até mergulhar por vários metros até pegá-los, Isso era o nosso divertimento e muito cansativo também. Que eu me recordo, só eu e o Irineu praticávamos esse tipo de pesca aqui no Centro. A minha cruzeta eu fazia da ponta de flecha de ubá ou escolhia uma flecha mais fina, ficava mais bonita.

Agora, sobre a enxada que você falou que ficava de trás da casa para enterrar o resultado do esforço fisiológico, aqui na cidade ela tinha nome: “enxadinha de enterrar titica”. Na minha casa e todas aqui do centro tinha banheiro, mas, criança você sabe como é... no fundo do quintal bem na divisa do terreno do Sr. Orlindo Lippi, tinha um pé de amora gigante, eu fazia um buraco no chão com a tal enxadinha, subia na amoreira e, soltava o resultado do esforço fisiológico para testar a pontaria. E, para limpar, usava alguns gravetos e folhas secas, de preferência de bananeira, não era à toa que quase todas as casas tinham uma touceira de bananeira no fundo do quintal.

Quando estava fora de casa, no praiado do rio do grupo escolar Dr. Esteves (braço do rio Grande), ou na praia do Cruzeiro, pegava aqueles gravetos branquinhos e bem lisinhos polidos pelo vai e vem da maré. Já no goiabal do campo de aviação, era na base da folha seca, e a limpeza estava feita. Era só levantar o calção, o estilingue já estava pendurado no pescoço, ajeitava a bissaca com as pedras e saía correndo para dentro do goiabal para passarinhar, feliz da vida.

Antigamente o sal Cisne vinha embalado dentro de um saco de pano de 1 e 2 kg, tinha até de 5 kg, era só amarrar uma tira de pano e estava pronta a bissaca.

Já os caipiras de serra a cima, ao invés dos gravetos usavam os sabugos de milho e as palhas, eram mais macios e eficientes, limpavam mesmo, mas na falta deles entravam no graveto e folhas secas. E você José Ronaldo, já limpou com o quê?

Até a próxima.


Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.
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