Embora responsabilidade fiscal e adimplência não sejam diferenciais administrativos e sim obrigações legais e éticas, a sociedade brasileira - em particular os empresários e os trabalhadores - recebe com muito entusiasmo os elogios do G7, grupo dos países mais ricos, à habilidade de nossas autoridades na condução da economia e à cooperação de sucesso com o Fundo Monetário Internacional (FMI). De fato, o resgate da credibilidade internacional e a retirada do Brasil da lista dos caloteiros em potencial é de grande importância para a economia e a manutenção de perspectivas mais animadoras de crescimento. No entanto, não só da credibilidade de seus credores e partners comerciais vive a economia de uma nação, em especial se seu passivo social for tão grande quanto o nosso, a começar pelo desemprego, que, apesar do crescimento do PIB em 2004, fechou o ano em torno de 11% da população economicamente ativa. Além de manter a economia estável, a inflação controlada e razoável responsabilidade fiscal, com superávit primário das contas públicas, o governo precisa desenvolver política econômica compatível com o tamanho do Brasil, seu índice demográfico, suas potencialidades e, sobretudo, a demanda que parte dos índices do desemprego, da renda per capita e dos ainda milhões de habitantes alijados dos benefícios da economia. Numa análise mais racional da questão, os elogios dos países ricos dizem respeito aos compromissos básicos de um governo. Responsabilidade fiscal e cumprimento dos compromissos com a dívida pública, externa e interna, não se configuram como diferenciais ou grandes feitos administrativos, em especial se a sociedade paga um elevadíssimo preço por isto, na forma de impostos muito onerosos - mais de 60 tributos e taxas. São obrigações de quem recebeu delegação dos eleitores para governar em seu nome. Controle da inflação com juros elevadíssimos é apenas a repetição de velhas fórmulas ortodoxas, sempre defendidas, sem qualquer criatividade, pelo FMI. Para evitar interpretações equivocadas, é preciso deixar bem claro serem muito importantes o reconhecimento e a credibilidade internacionais. Porém, este valor somente ganha significado em termos práticos se efetivamente convertido em trunfo para a melhoria das condições de vida da população, perenização do crescimento e geração de empregos de forma paulatina e em escala. No universo das nações emergentes, o Brasil foi a que menos cresceu no exercício de 2004, numa conjuntura mundial altamente favorável. Devemos, sim, comemorar a expansão de aproximadamente 5% do PIB no ano passado, mas também é pertinente questionar o quanto mais poderíamos ter crescido com menos impostos, juros menores, câmbio mais realista e maior disponibilidade de crédito nas pontas do consumo e da produção. Também é oportuno ponderar até quando o País conseguirá manter curva ascendente na performance da economia se não for revista e atenuada a sua pesadíssima política monetária e fiscal. Um quadro preocupante está-se delineando no horizonte. Um olhar ampliado das novas fronteiras comerciais do Planeta demonstra com clareza a competitividade agressiva, mas eficiente, da China, da Índia e até mesmo da nova economia de mercado da Rússia. Já estamos consumindo aqui, em proporção cada vez maior, produtos que geram empregos à distância. Como se vê, não bastam tapinhas nas costas para forjar o desenvolvimento de uma nação. Nota do Editor: Ivo Barbiero, economista, é presidente da Cheque-Pre.com.
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