Enquanto o mercado financeiro questiona a razão para a elevação constante das taxas de juros, praticadas pelo Banco Central, e as mais destacadas correntes de economistas classificam essa política como demasiadamente forte e inócua, o marketing político está forçado a concluir que essa estratégia pode sinalizar a utilização política da queda das taxas, no próximo ano, como pano de fundo para uma onda de otimismo que teria como único objetivo a reeleição do presidente Lula. O sentimento foi reforçado pela decisão, na semana passada, de liberação de mais de R$ 400 milhões em emendas aos parlamentares da "base aliada" do governo Lula visando ao processo de abafamento para impedir a abertura da "CPI dos Correios", que inseriu o ministro Palocci no pacote de articuladores políticos para atenuar a atual crise do governo Lula. O atual quadro de crise do governo federal (desemprego, juros altos, CPI, envolvimento do PT no desmatamento da Amazônia, a perda de apoio do PV no Congresso e a brutal queda de popularidade de Lula desde a última pesquisa, em dezembro passado) fez com que até mesmo aquela "reserva moral" que tentaram construir em relação ao atual comandante-geral da economia, o ministro Palocci, precisasse ser utilizada, e maculada, no grande esforço de barrar a CPI. Ora, um grande jargão do Direito celebra que "quem pode o mais, pode o menos"... Se a imagem técnica e de serenidade de Palocci, que os publicitários do governo tentaram construir, foi rifada na tentativa de impedir a CPI, pode-se imaginar que toda a construção do cenário de otimismo e desenvolvimento que tentarão impor ao país, no próximo ano, também poderá contar com o artifício de uma desaceleração constante das taxas de juros a partir do final deste ano, como pano de fundo da campanha à reeleição de Lula. Tudo parece ser possível para o núcleo duro do poder petista, a partir de agora. Contar com a complacência da Mídia TV é outra ferramenta indispensável - e essa adulação parece ter-se concretizado com a compensação financeira às emissoras em razão da renúncia fiscal pela transmissão do horário eleitoral (nada gratuito). Assim, é de se prever, em poucos meses, que o mercado financeiro venha a ser palco de novas ondas especulativas baseadas na mudança de rumo da política de juros, transbordando alegria aos especuladores e ao sistema financeiro - que nunca esteve tão satisfeito com um governo de "esquerda", como vemos atualmente. Já o universo político, este sim mais consciente das artimanhas palacianas, estará analisando os desdobramentos pela utilização da economia - e das ferramentas que o governo dispõe para influenciá-la - principalmente neste momento em que as pesquisas eleitorais exigem uma ação rápida para brecar a queda de popularidade e a perda substancial de credibilidade da pessoa do presidente e de seu partido. O que faltará discutir - caso o instrumento venha a ser efetivamente utilizado - é o grau de perversidade e os prejuízos à economia causados por uma medida de caráter econômico que possa vir a ser aproveitada pelo governo com objetivos eminentemente eleitoreiros. Nota do Editor: Marco Iten é jornalista especializado em Marketing Político.
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