No último sábado dia 19 de novembro aconteceu, em São Sebastião (SP), o 33º Concurso de Poesias Nhô Bento, nesta edição as cinco poesias premiadas foram:

“Benção e Maldição” de Mauro José Ramos

“Velhos retratos” de Luzinete Aparecida Nunes Espinha

“A voz do silêncio” - Fumaça - Interno da Fundação Casa de Lorena

“Fato” de Maria Vera Cecílio Alba

“Feche os olhos” de Luiz Aparecido Marcolino

E o melhor intérprete da noite foi Felipe Horácio Gonçalves Ferraz Riela com a poesia: “Dentro da voz do gago existe uma tragédia grega”.

Benção e maldição
Mauro José Ramos

Malditas cruzes à beira da Estrada,
Com seus santos quebrados e anjos empoeirados,
Oratório de insetos toscos e acostumados,
À peregrinos ateus e indignados!

Benditas cruzes à beira do caminho,
Cheias de pedaços de velas e santinhos,
Com terços, flores, quadros, de tudo um pouquinho,
Via-sacra dos perdidos; referência de quem anda sozinho!

Malditas pombas sujas do telhado das igrejas,
Barulhentas, contagiosas, pragas voadeiras,
Burras, fedidas, doentes, aves grosseiras,
Ratos alados, pulgas urbanas, pestes alastradeiras!

Benditas pombas Divino Espírito Santo,
Coloridas, douradas, de gesso, de madeira, ou de pano,
Do Reisado, do Congado, da Folia, ou das danças de cada canto
Suas penas são bandeiras, o seu voo: um encanto!

Malditos maltrapilhos e miseráveis homens e mulheres de rua,
Que enfeitam as praças, acabam com a graça das madames e das peruas
Margeiam de sacos e trapos avenidas, rodovias da maneira mais nua e mais crua
Vestem-se do resto do meu armário, comem do resto das sobras dos pratos e das mesas suas.

Bendito os pobres e pequenos que polvilham nossa consciência e nosso coração.
São sementes do evangelho espalhadas pelo mundo inteiro, de nação em nação,
Hótias abandonadas, pão sagrado esquecido, carentes de adoração e de comunhão
Portas santas da misericórdia, escadas do céu, condição de nossa salvação.