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São Sebastião
01/12/2017 - 06h07
Aldeia do Rio Silveira
Maria Angélica de Moura Miranda
 

Aos 14 anos comecei a trabalhar na Prefeitura Municipal de São Sebastião, era 1972. Nessa época conheci os grandes investidores que, tendo em vista o desenvolvimento da região por causa da chegada da estrada, diziam-se proprietários de grandes áreas de terras com impostos municipais ou do INCRA.

Acho que essas áreas eram compradas com o mesmo sistema das antigas posses, o proprietário falava: “Até onde se enxerga é terra minha” ou então “Da praia até as vertentes”. Isso se sobrepunha a pequenas propriedades que já existiam há anos, e tinham o azar de estar no caminho dos grandes investidores.

Começava aí a disputa por aquele patrimônio que a meu ver era de maneira desleal, os mais ricos contratavam advogados caríssimos, especialistas e acabavam ganhando sempre.

Nessa época os índios Guaranis eram usados como massa de manobra por grileiros, que traziam as famílias para as terras, uma vez que com os índios no local ninguém invadia, e com a tranquilidade de saber que os índios nunca brigariam pela posse do lugar.

Na década de 40 os moradores da Costa Sul de São Sebastião perceberam famílias inteiras que estavam instaladas na região do Rio Silveira, perto da divisa de Santos, na época. Esses índios tem hábitos nômades e é comum ver famílias caminhando para outras aldeias ou outras cidades, em 1963 um grupo saiu de São Sebastião e criou uma nova aldeia em Ubatuba.

Os primeiros contatos que tive com esses índios foi através da feira livre, eles vinham vender palmitos, artesanato e com o dinheiro faziam as compras, alguns ficavam bêbados, causando uma má impressão.

Certa vez no final da missa, o padre Nivaldo abriu espaço para um índio da aldeia que nos falou: “Estamos sendo caçados como bichos na mata”.

Começava ali uma nova fase, os mesmos proprietários de terras que trouxeram os índios para a região, contratavam jagunços para expulsá-los do local.

O governo federal estava fazendo o levantamento das aldeias indígenas para homologar as terras a favor dos índios.

Desde então juristas, jornalistas, ambientalistas e a sociedade civil organizada se mobilizaram com abaixo-assinados, para que a demarcação das terras do Rio Silveira fosse a favor dos índios Guaranis.

Na década de 80 a homologação saiu, pois as terras foram consideradas: “De imemorial ocupação indígena” e coube aos índios o direito da posse.

Em 2003 a Prefeitura de São Sebastião e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), construíram 59 moradias obedecendo as características indígenas com banheiro e cozinha em alvenaria.

A aldeia conta com um núcleo mantido pela FUNAI que está sem o técnico responsável e unidade de saúde mantida pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). A divisa agora é com Bertioga que conta com uma escola indígena e alfabetização para jovens e adultos.

A aldeia se utiliza de matéria-prima para produção de artesanato, cultiva roças de banana, mandioca, batata doce e milho, criam galinhas e praticam a caça e a pesca. Produzem também mudas de palmito Juçara e Pupunha e plantas ornamentais como Bastão do Imperador e Helicônias. Recebem apoio técnico do engenheiro Maurício Alves chefe da Casa da Agricultura de São Sebastião. 

Agora estão precisando de reformas nas moradias e há esgoto a céu aberto, causado por vazamento das fossas.

Os Guaranis do Rio Silveira conquistaram uma situação estável, mantém seus ritos e rezas, e conservam o olhar místico sobre a natureza que sabem preservar. Esses índios são originários da região onde hoje é a Bolívia, o Paraguai e a Argentina, trazem na linguagem traços da colonização espanhola. Entraram pelos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso e hoje estão de Cananéia até Angra dos Reis, hoje são 3 aldeias entre o Rio Silveira e Ubatuba.


Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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