Durante muito tempo, a palavra alfabetização foi suficiente para designar a aprendizagem inicial da língua escrita, ou seja, o processo de ensinar e/ou aprender o sistema da escrita.

Hoje novas percepções e compreensões do processo e significado da aprendizagem da escrita, traduzem a expressão alfabetização, deixando claro que esta não designaria apenas aprender a ler e escrever, mas também o desenvolvimento das habilidades da leitura e escrita, sem que a alfabetização seja puramente mecânica.

A desejada alfabetização "no sentido amplo" compõe-se da aprendizagem do sistema de escrita, convencional e por outro lado, o indispensável aprendizado dos usos e funções sociais/culturais da leitura-escrita.

Partindo deste pressuposto, as turmas do Jardim de Infância constituem-se no espaço ideal para o início do processo de construção das hipóteses de leitura e escrita, levando em consideração que as crianças têm diversas experiências com o universo alfabetizador, advindas da aprendizagem informal em diferentes ambientes e situações: quando identificam as marcas dos produtos nos rótulos, observam os familiares lendo, reconhecem os painéis de propagandas, as placas do trânsito... Por este motivo, os professores devem propiciar às crianças, situações significativas que os impulsionem aos percursos necessários para que cheguem à leitura e escrita convencional, e então, adquiram suficiente competência para participar do mundo letrado. Através de atividades em grupos e na relação com o outro vão construindo e reconstruindo seu conhecimento, tendo o professor seu papel de mediador deste processo educativo, respeitando a criança como sujeito que pensa, constrói, interpreta, elabora,... suas hipóteses.

Neste sentido, professor e aluno, cumprem reciprocamente o papel de investigador, na busca do conhecimento contínuo. O professor "desafia" cada criança a avançar em sua hipótese, propiciando condições de interagir e participar de situações significativas de aprendizagem, realizando novas conquistas, superando construções iniciais, ultrapassando expectativas, sendo, imprescindível observá-lo freqüentemente, registrando suas hipóteses, para uma contínua avaliação de sua evolução.

A aprendizagem deixa de ser mecânica e descontextualizada, como nos modelos apresentados pelas cartilhas e passa a ser significativa, já que as tentativas de escrita devem estar relacionadas aos Projetos desenvolvidos pelas turmas, nomes das crianças... A sala de aula vai se tornando o "ponto de referência" para a aprendizagem à medida que as paredes vão se revestindo de escritas importantes para o grupo e os "cantos da sala", em locais de leitura como a bibliotequinha, informativos do Projeto, escritas de textos coletivos... Sendo, muitas vezes, o ponto de partida, as experiências anteriores de letramento que as crianças trazem de suas vivências fora do espaço escolar.

Cabe aos professores instigar nas crianças a necessidade primeira do ato de ler e escrever. É preciso despertar nelas o desejo, o querer, o interesse em perceber as letras, seja pelo crachá do seu nome, nome dos colegas, história infantil, livros informativos, pesquisas na Internet, bilhetes enviados aos pais... A parceria com a família, neste processo de aprendizagem, torna-se mais uma vez necessária, no sentido de oportunizarem a continuidade dos estímulos recebidos na escola. Pois, somente percebendo que ler e escrever pode ser interessante, estimulará as crianças a abrirem seus horizontes no processo de ensino-aprendizagem e a comunicação entre quem ensina e aprende se tornará mais forte e significativa.

Nota do Editor: Cleusa Beckel é Coordenadora Pedagógica.