O que você diria se ao abrir uma melancia estivesse com a polpa amarela ou laranja? Não se surpreenda ela existe, pois saiba que variedades adaptadas para o Brasil de polpas amarela e laranja estão sendo desenvolvidas pela Embrapa Rondônia desde 2002. O Pesquisador, da área de Melhoramento Vegetal, Flávio de França Souza, responsável por está iniciativa também fez parte da equipe que desenvolveu a melancia sem semente, na época, bolsista da Embrapa Semi-Árido, em Petrolina (PE). Além de variedades de polpa amarela e laranja, no programa de melhoramento genético de melancia da Embrapa Rondônia também estão sendo desenvolvidas variedades de polpa vermelha. As pesquisas visam à obtenção de cultivares precoces, de frutos pequenos, com alto teor de açúcar, boa resistência ao transporte e com diferentes padrões de casca e cor de polpa. A perspectiva é de que, até junho de 2006, sejam lançados nacionalmente, pelo menos duas cultivares, sendo uma de polpa amarela e outra de polpa vermelha, e em 2007, uma cultivar de polpa laranja, diz o pesquisador da Embrapa Rondônia. O próximo passo da pesquisa será a avaliação do desempenho agronômico dos materiais em outras regiões brasileiras. A idéia de trabalhar com as melancias de polpa amarela surgiu da necessidade de diversificar a oferta de melancias no mercado nacional, agregando novas características à fruta. Existe também a questão nutricional, pois os vegetais de coloração vermelha são ricos em licopeno e os de coloração amarela são ricos em caroteno. Os dois pigmentos atuam na prevenção de doenças do coração e de diversos tipos de câncer. O caroteno, quando ingerido, converte-se em vitamina A, que tem conhecida ação na prevenção de alguns males da visão, entre outras funções. Flávio acredita que, no caso das crianças, principalmente, a melancia de polpa amarela seja uma fonte natural de vitamina A, mais atrativa e palatável do que a cenoura e as abóboras. A cor da polpa não influencia no sabor. Provavelmente, influencie a percepção do consumidor, que por estar acostumado à polpa vermelha, poderá apresentar no início, alguma resistência ao consumo. Durante as avaliações realizadas na colheita dos ensaios, em Porto Velho e em Machadinho do Oeste, a grande maioria das pessoas que experimentam aprova. Com relação ao mercado, "estamos convictos de que os dois tipos poderão co-existir harmoniosamente na gôndola dos supermercados e feiras livres do Brasil. Observe o caso da uva, por exemplo: é comum encontrarmos na seção de frutas, às vezes, mais de cinco variedades de uva, das mais diversas cores. Isso dá ao consumidor a possibilidade de escolha", diz o pesquisador. A melancia amarela não é transgênica. Naturalmente, a espécie pode apresentar, além do tradicional vermelho, frutos de polpa amarela, laranja, rósea e branca. O que se fez foi juntar em grupo de plantas a polpa amarela a outras características que atendam às necessidades do produtor e do consumidor. Os aspectos mais trabalhados na pesquisas, que trarão vantagem ao produtor foram à produtividade, precocidade e a resistência ao transporte. As plantas são bastante precoces, produzindo com cerca de 60 dias, contra os 85 dias das variedades tradicionais, o que garante retorno mais rápido e proporciona melhor aproveitamento da área e da mão de obra e reduz riscos de perdas por pragas, doenças e condições ambientais desfavoráveis. Do lado do consumidor, explica Flávio, buscamos reduzir o tamanho dos frutos e introduzir as polpas de coloração amarela e laranja, sem alterar o sabor e a textura já consagrados entre os consumidores brasileiros: melancia tem que ser doce e ter a polpa crocante. A questão do tamanho do fruto é um tabu tão importante quanto a cor da polpa. O consumidor está acostumado a ver melancias enormes nas feiras e supermercados. Isso ocorre porque as principais variedades que são cultivadas no país são de frutos grandes que podem chegar a 20 kg, criando uma idéia, junto ao consumidor, de que melancia pequena é refugo e, portanto não tem doce. Por outro lado, é muito complicado para uma pessoa que mora sozinha, ou para uma família pequena, que são condições cada vez mais comuns nos dias de hoje, comprar, transportar, consumir e armazenar uma melancia com mais de 6 kg. Esse cenário, no entanto, não inviabiliza no médio e longo prazo as variedades de frutos grandes. Elas sempre terão o seu local assegurado no mercado, até porque tem crescido a oferta de melancias fatiadas nos supermercados. Além disso, há um mercado em potencial para a venda de melancia minimamente processada com polpa do fruto cortada em cubos dentro de embalagens plásticas transparentes que tem sido pouco explorado no Brasil.
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