Em sentido preciso, o investimento é definido como um aumento ou reposição do estoque de bens de capital. Em outras palavras, é o gasto feito com a aquisição de máquinas, equipamentos, infra-estrutura e instalações que ampliam (ou recompõem) a capacidade produtiva de um país. Ele define o potencial de crescimento da economia, determina suas possibilidades futuras. Ele é o elo entre o presente e o futuro da economia. No Brasil dos últimos anos, a taxa de investimento tem ficado aquém do que seria necessário para atingirmos um nível elevado e sustentado de crescimento. Nos anos 70, período de acelerada expansão, a taxa nominal de investimento (medida pela Formação Bruta de Capital Fixo) permaneceu acima de 22% do PIB. Em 2003, ela ficou em apenas 17,8%. Em 2004, ano de forte recuperação econômica, a taxa de investimento retomou trajetória de elevação e alcançou 19,6%. Agora, em 2005, o cenário voltou a preocupar. Os dados do IBGE sobre o desempenho do PIB apontaram crescimento abaixo do esperado (o PIB do primeiro trimestre de 2005 cresceu apenas 0,3%). Porém, a dimensão mais preocupante foi qualitativa. Dos componentes da demanda, aquele que teve o pior desempenho foi o investimento. O resultado surpreendeu negativamente e foi considerado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (órgão do governo) como "decepcionante". O nível de investimento caiu no primeiro trimestre deste ano 3,0% em relação ao quarto trimestre de 2004. Considerando-se que nesse quarto trimestre já tinha ocorrido uma queda de 3,9%, o investimento acumula uma diminuição de 7,01%. Os investimentos estão sendo prejudicados pelos efeitos da política monetária que tem se caracterizado pela elevação continua da taxa básica de juros. Com juros reais superando os 13,5% ao ano, as empresas estão sendo estimuladas a comprar títulos públicos ao invés de adquirir máquinas e construir novas instalações. As empresas brasileiras estão adiando decisões de investimento e preferindo obter ganhos financeiros com a aplicação dos seus recursos excedentes. Além disso, os juros em alta aumentam a incerteza quanto à continuidade da recuperação do consumo doméstico, o que também incentiva os empresários a adiar seus investimentos e esperar por tempos melhores. Um outro fator que tem abalado o nível de investimento no Brasil é a significativa e persistente valorização do câmbio. A permanência de uma cotação baixa do dólar ameaça a competitividade futura das exportações e faz as importações tornarem-se mais atrativas. Com esse horizonte incerto, inibem-se as decisões de investimento para expansão de capacidade produtiva destinada ao mercado externo. O terceiro fator a desestimular o investimento é o impacto fiscal dos juros altos. Como o governo é o principal devedor da economia, é sobre suas contas que recai a maior parte dos juros pagos. Para poder arcar com o crescente montante de juros, o governo contrai seus gastos com investimentos. Com investimentos em queda e saldo comercial ameaçado, como conseguiremos crescer em 2006 e evitar mais um período da economia em "vôo de galinha"? Claro está que a solução desse problema requer a correção dos exageros do Banco Central na condução da política de juros. Nota do Editor: João Pamplona é assessor econômico da Equifax e professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP.
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