Na busca de mudanças em benefício da educação, a escola deve abrir espaços, para a aprendizagem de seu corpo docente. Sabemos dos problemas enfrentados pelos professores durante sua trajetória profissional e os motivos do pouco envolvimento com as reformas de ensino. Necessitamos ter presente o professor como indivíduo e profissional, na busca de "professores totais", que iram auxiliar nas transformações que almejamos para as "escolas totais". Em muitas escolas o individualismo, a individualidade, a cooperação e a colaboração, estão presentes e devemos saber aproveita-los. Na busca pelo profissionalismo interativo, devemos propiciar espaços para o aperfeiçoamento contínuo, onde a escola passa a ser vista como um "centro de mudanças", em que a colaboração significa uma visão em conjunto, através da articulação das diferentes vozes, o que é imprescindível, para que tenhamos o engajamento de todos. Muitas vezes, acompanhamos situações distintas de professores, nas escolas. Numas o professor não é convidado a participar das decisões da escola e em outras ele é envolvido, sentindo-se assim, respeitado como profissional. Estas situações, certamente irão refletir na qualidade de ensino e aprendizagem em nossas salas de aula. Os professores, muitas vezes, colocam a sobrecarga como um dos fatores que atingem sua prática. Turmas grandes, crianças portadoras de necessidades especiais, problemas comportamentais e sociais... As escolas exigem que os professores lidem com habilidade e maior compromisso com diferentes comportamentos em sua sala de aula. Surge então, a necessidade de acompanhamento, assessoramento e trocas entre colegas, a fim de implementarem novas iniciativas. Porém, a sobrecarga de expectativas e soluções fragmentadas, continua sendo o problema principal. Encontramos ainda, o isolamento do professor, que limita o acesso a novas idéias e soluções melhores. Escondendo, muitas vezes, habilidades e competências, dificultando a construção de uma linguagem única. Não havendo oportunidade dos professores trabalharem em conjunto, aprendendo uns com os outros, buscando qualificarem sua prática, construindo o pensamento de grupo. Observações mútuas e feedback são importantes referenciais para o trabalho do professor. O trabalho em grupo é necessário, porém deve haver um certo cuidado, para que esta união e cooperação realizem "coisas boas". O trabalho individual também é essencial para que haja a reforma, pois primeiro o indivíduo muda a si mesmo, para depois influenciar o grupo. Pessoas conectam-se a outros, criando novas alianças. Vivenciar e descobrir melhores maneiras de trabalho cooperativo mobilizam o grupo e o desenvolvimento individual, desde que as individualidades sejam respeitadas. Com isto, a competência não-utilizada e a incompetência negligenciada, poderiam ser amenizadas, num ambiente de verdadeira aprendizagem: aprendendo uns com os outros. Muitas vezes, encontramos ainda, a limitação do professor e a distância entre líderes, gerando em geral, soluções impostas e incorretas. Se quisermos preparar líderes competentes, precisamos propiciar mais situações de liderança e administração, enquanto o professor ainda está vivenciando a sala de aula. Só quando, estimulado, capacitado e comprometido, o professor irá contribuir para que as mudanças sejam efetivadas na educação. Muitas reformas não alcançam o êxito esperado, por não considerarem as necessidades dos professores, que são os elementos-chave para as mudanças. Os "professores totais", não devem ser confundidos com professores perfeitos. Como vimos anteriormente, será muito difícil mudar o ensino, se não comprometermos o professor e levarmos em conta sua influência, como pessoa. Muitas iniciativas para o desenvolvimento de pessoal assumem a forma de algo que é feito para os professores, ao invés de com eles e, menos ainda, por eles. É fundamental, que os professores sintam-se autores das mudanças necessárias. A escola deve aprender com os professores, saber o que pensam, como resolvem, pensar junto... Propiciar um "clima" de trabalho com tempo para as mudanças, num processo gradual, respeitando a história de vida de cada um, pois isto influenciará no desenvolvimento de cada criança. Hoje, o papel moral é muito maior que no passado. Decisões sobre disciplina, o fazer pedagógico, intervenções... Definem o profissionalismo do professor, num ambiente de mudanças rápidas. O propósito do professor motiva seu fazer e este, muitas vezes, não é considerado pelos agentes das reformas e mudanças, resultando em ressentimentos e resistências. Se desejarmos, que qualifiquem sua prática, que se abram a novas idéias, devemos como ponto de partida, considerar seus conhecimentos e opiniões. Suas crenças iniciais sobre ensinar e aprender, assim como trocas de experiências, onde possam aprender uns com os outros, para a construção de novas práticas. A pesquisa modifica a prática, fazendo surgir questionamentos críticos, num processo de ir e vir. O que motiva o professor é a qualidade do trabalho e o próprio ambiente profissional. Existe também a recompensa psíquica do ato de ensinar, ou seja, as alegrias e satisfações decorrentes da atenção dada aos alunos. A atenção, o cuidado e a responsabilidade caracterizam a colaboração entre professores. Teremos professores totais nas escolas que valorizarem, desenvolverem e apoiarem o discernimento e os conhecimentos de todos os professores na busca do aperfeiçoamento. O crescimento do professor não pode ser imposto, as mudanças significativas e duradouras, como já vimos, são lentas. Devemos considerar o estágio de vida, questões de gênero, sua biografia, interesses, idade, experiências... E ainda, é importante buscar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, somente assim, conseguiremos uma maior adesão às mudanças que desejamos, sem criarmos escolas divididas. Se buscamos o desenvolvimento profissional e a melhoria na escola, devemos valorizar nossos professores, pois cada escola tem o professor que merece. Unir currículo e ensino é um dos desafios atuais, que o professor precisa executar. São necessárias novas estratégias de manejo de ensino. Outro aspecto importante no contexto de ensino é seu realismo e praticidade. É preciso desafiar os alunos para envolvê-los em sua aprendizagem, porém também há a necessidade de acalmá-los, a fim de controlar o estresse dos professores. A ação do professor sofre influência do número de alunos nas turmas, do tempo (para ficar em aula, planejar, observar colegas...) e do currículo, ou seja, "dar conta" dos conteúdos. Se buscamos professores comprometidos com metas comuns e aperfeiçoamento contínuo, cabe à escola o papel de valorizar, apoiar, estimular e propiciar as trocas entre sua equipe, respeitando os propósitos do professor e da pessoa que ele é. Outro fator importante nas escolas está relacionado às relações e sabemos o quanto estas podem influenciar de forma positiva ou negativa o grupo. Numa "Escola Total", aquilo que une é enfatizado, todos os profissionais trabalham juntos. O inverso acontece nas escolas "travadas", onde o isolamento aparece como forma de proteção ao professor. Os cenários de aprendizagem são empobrecidos, não existindo vínculo entre as pessoas e as novas idéias são inacessíveis. O individualismo limita o crescimento e o aperfeiçoamento dos professores. É importante que estas escolas oportunizem "pequenas frestas" nas paredes do individualismo através de conversas em grupos, observações mútuas... Procurando a união dos professores. Muitas vezes, o professor acha que a ajuda é para fiscaliza-lo. Por isso, é importante valorizar as contribuições que trazem, criando um clima de reciprocidade. Uma causa básica do individualismo refere-se às expectativas impossivelmente elevadas que muitos professores fixam para si mesmos. Estas expectativas muito altas ocorrem, pois querem atender as várias demandas: alunos especiais, diversidades étnicas... Com isto, acabam refugiando-se na sala de aula sem tempo para a colaboração. Cabe a escola um olhar atento para o seu grupo, procurando oportunizar momentos de trocas, distribuindo tarefas iguais para todos, estimulando o trabalho em equipe... Propiciando, que todos se sintam como parte integrante, construindo o coletivo, podendo pedir e dar ajuda, assumindo o "eu ainda não sei". Deve haver o desenvolvimento de relações cooperativas, onde os professores tenham confiança e comprometimento com o aperfeiçoamento, enriquecendo-se com o grupo, valorizando cada um como pessoa. Este desenvolvimento está relacionado às ações dos dirigentes. Escolas que possuem grupos de professores competitivos, sem conexões, com visões muito diferentes, acabam segmentando de forma prejudicial seu desenvolvimento, criando a "balcanização". Este problema, junto com a colaboração confortável, ou seja, onde não há questionamentos, reflexões, críticas das práticas na busca de alternativas melhores, também não auxiliam as mudanças necessárias para a escola. Outro problema é a ação colegiada, quando são determinadas, as ações (como horários para encontros de professores para planejamentos). Porém, quando usada de forma facilitadora, esta ação pode servir de espaço para o relacionamento e as trocas entre as pessoas. Tanto professores iniciantes como veteranos, tem muito a contribuir com a escola que desejamos. Para isto, é importante que se sintam valorizados e motivados para as mudanças necessárias, surgindo o profissionalismo interativo, como forma de fortalecer cada elemento da equipe. Precisamos gerar soluções que funcionem e sejam duradouras, a fim de produzirmos uma mudança mais eficiente. Logo, a reflexão se faz necessária, assim como a partilha e a interação, como forma de condução a novos aperfeiçoamentos na prática. O monitoramento do desenvolvimento do aluno, também pode ser um incentivo para o desenvolvimento do professor. Uma das formas mais eficientes de desenvolvimento de professores é aquela em que uns aprendem com os outros. O registro pelos professores das observações diárias da sua turma, os estudos de caso, as observações das turmas dos colegas, as entrevistas com coordenação/orientação/professor... São importantes formas de feedback para o fazer pedagógico. Freqüentemente, devemos buscar instrumentos para encontros com pais, conselhos de classe, passagem de turmas, reuniões pedagógicas, relatórios de avaliações... A busca da valorização do professor de forma integral, também deve ser uma meta; seja do lado pessoal, com confraternizações como jantares, amigo-secreto, dinâmicas... Assim como, a valorização profissional, aproveitando a formação de cada professor em cursos de Pós ou participações de jornadas, seminários, encontros educacionais... Relatos de experiências, escrita de artigos, grupos de estudos com produções de textos coletivos e apresentações para os colegas, materiais com "dicas" para serem enviadas às famílias... A realização de reuniões com "feiras de idéias" ou com os outros segmentos do Colégio, também devem fazer parte do cronograma na busca dos melhores manejos para os desafios do dia-a-dia, procurando mostrar, que independente da faixa etária, todos precisam estar motivados para o ensino-aprendizagem... Em reuniões pedagógicas, sempre é interessante propor que os professores listem suas metas e desafios para o ano letivo. A partir do levantamento de suas colocações, propor trabalho em grupos, sobre os assuntos. Os professores sairão em busca de subsídios para a qualificação de sua prática, pois o momento de maior aprendizagem para qualquer um de nós é quando nos percebemos responsáveis por um problema que desejamos, desesperadamente solucionar. Quando a escola abre espaço para o professor sentir-se atendido em suas necessidades e também estar engajado como pesquisador e autor de sua fundamentação teórica, esta se torna uma organização aprendente, possibilitando que as mudanças acontecem e venham servir de alicerce para novas construções de escolas e professores totais, na busca de uma educação de qualidade. Nota do Editor: Cleusa Beckel é Coordenadora de Ensino.
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