Desde o quarto trimestre do ano passado há um movimento claro de expansão do crédito na economia brasileira. O volume total de crédito do sistema financeiro aumentou de 25,5% do PIB em maio de 2004 para 27,2% em maio último, segundo o Banco Central. Essa elevação foi resultado, em grande parte, do aumento das operações destinadas às pessoas físicas. Nos últimos seis meses, o crédito ao consumidor vem crescendo de forma acelerada. Em maio de 2005, confrontado com o mesmo mês do ano anterior, o crescimento atingiu 36,8%. Essa constatação faz surgir a seguinte questão: a expansão do crédito ao consumidor se manterá nos próximos meses? Em outras palavras, é sustentável a expansão do crédito ao consumidor no Brasil? O aumento das operações destinadas às pessoas físicas está concentrado em duas modalidades de crédito: em maior grau no crédito pessoal, e em menor grau no crédito para aquisição de veículos. Cerca de 52% do crescimento do crédito ao consumidor observado em maio são explicados pela elevação do crédito pessoal (em especial das operações consignadas em folha de pagamento) e 24% são explicados pela ampliação do crédito para aquisição de veículos. Assim, para que se possa responder à pergunta acima, é preciso conhecer o cenário futuro para essas duas modalidades de crédito. Nos primeiros meses deste ano (janeiro a abril), as taxas de juros cobradas das operações de crédito pessoal e de aquisição de veículos estavam estáveis e em níveis inferiores àqueles verificados em 2004. No entanto, a partir de maio, o quadro muda, as taxas crescem (especialmente as do crédito pessoal) e ficam em níveis superiores aos do ano passado. Quanto aos prazos das operações em maio, eles se mantiveram estáveis para a aquisição de veículos, e para o crédito pessoal eles continuaram a aumentar, mas com velocidade menor e já podem estar no seu limite. Desta forma, o cenário futuro para essas modalidades, que fizeram o crédito ao consumidor crescer em 2005, é de prazos estáveis das operações e taxas de juros em elevação. Uma outra dimensão importante com relação às perspectivas do crédito ao consumidor diz respeito aos limites que as pessoas estão encontrando para honrar suas dívidas. Os dados de mercado de trabalho têm mostrado que o rendimento das pessoas ocupadas não está aumentando. Diferentemente da taxa de desemprego, a remuneração dos trabalhadores não está melhorando. As conseqüências do poder aquisitivo estagnado dos trabalhadores já aparecem nos indicadores de inadimplência, que estão em elevação (os cheques devolvidos e os títulos protestados de pessoas físicas cresceram 20,1% e 6,6%, respectivamente, na comparação junho de 2005 com junho de 2004, segundo levantamento da Equifax). Somando-se as condições mais adversas de oferta de crédito nas modalidades crédito pessoal e aquisição de veículos à estagnação da renda dos trabalhadores, é fácil imaginar que nos próximos meses haja uma desaceleração da expansão do crédito ao consumidor no Brasil. Nota do Editor: João Pamplona é assessor econômico da Equifax e professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP.
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