Apesar de avaliarem o atendimento como "ótimo", idosos relatam situações em que seus direitos não são devidamente respeitados. A ausência de críticas se deve, principalmente, ao desconhecimento e ao receio
Uma pesquisa realizada em dois hospitais paulistanos aponta que os direitos dos idosos internados não são totalmente respeitados. Segundo a autora do estudo apresentado à Faculdade de saúde Pública (FSP) da USP, Ana Maria Tucci Ferreira, é necessário tomar medidas que "unam a teoria das disciplinas de Ética dos cursos de Enfermagem à prática hospitalar". Ana Maria, que é enfermeira e professora universitária, entrevistou 32 idosos, com idades entre 65 e 90 anos, internados há mais de 48 horas - 12 deles em um hospital público e 20 em um hospital filantrópico, na cidade de São Paulo. Nas entrevistas, pediu aos pacientes que avaliassem o atendimento. Também procurou definir, por meio de perguntas, até que ponto eles tinham respeitados seus direitos à atenção, à informação, à privacidade física, à assistência religiosa, a acompanhante e ao conforto e bem-estar. Nas questões, Ana Maria procurou abordar tópicos do Código de Ética de Enfermagem e da Lei dos Direitos dos Usuários dos Serviços, além de ações de saúde no Estado de São Paulo. A pesquisadora aponta que, apesar de 28 dos idosos entrevistados avaliarem o atendimento como "ótimo", as respostas indicam que há pouco respeito aos seus direitos. "Uma das entrevistadas disse que lhe foi negado o direito a acompanhante. Outro contou que o profissional de enfermagem se negava a informar que medicamento ele estava tomando", lembra. "Há casos de idosos que, mesmo constrangidos, são banhados em suas camas e sem biombo [cortina], em presença de outros pacientes", exemplifica. "É preciso levar em consideração que muitos dos idosos nasceram nas décadas de 20 ou 30, quando os costumes eram mais rígidos." Peculiaridades A pesquisadora destaca que uma atitude comum dos enfermeiros é tratar o idoso como uma criança ou um adulto jovem. Segundo ela, os pacientes idosos possuem necessidades específicas, e a assistência deve considerar seu grau de vulnerabilidade, autonomia, capacidade funcional e independência. "Muitas vezes o enfermeiro, por impaciência, prefere que o paciente use fraldas em vez de ajudá-lo a caminhar até o banheiro. Isso é prejudicial, pois provoca desconforto e alimenta a sensação de dependência." Ana Maria também reflete sobre as condições de trabalho dos enfermeiros. Embora a demanda por atendimento cresça, o número de profissionais tem sido cada vez mais reduzido nos hospitais, o que em parte prejudica o atendimento. Para a enfermeira, que dá aulas na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a questão central está na formação. "Ainda são poucas as faculdades que oferecem disciplinas na área de Geriatria e Gerontologia", aponta. "Calcula-se que, em duas décadas, seremos o sexto país em número de idosos. Isso torna mais urgente a necessidade de medidas que melhorem a infra-estrutura dos hospitais e o atendimento aos idosos.
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