Como já definia o filósofo grego Aristóteles, há cerca de 2.300 anos, em sua obra "Política", "o Estado é a forma mais elaborada da sociedade. Somente ele tem por finalidade a vida bem-aventurada dos homens livres". Resgatar tal conceito é importante neste momento em que, mais uma vez, o Brasil derrapa na lama da corrupção, que tanto o tem prejudicado e retardado sua caminhada em direção ao desenvolvimento. Há unanimidade entre os pensadores, independentemente de seu tempo e tendências ideológicas, sobre o papel insubstituível do Estado como instituição capaz de viabilizar o equilíbrio entre direitos e deveres e a garantia do atendimento às necessidades básicas da humanidade. Não há outra alternativa de organização para o homem, ser gregário e político por natureza, que não sabe e não pode viver sozinho. Dimensionar com clareza a importância do Estado e de sua gestão por pessoas eleitas pelo voto direto, livre e soberano, é fundamental para tornar mais evidente a gravidade da corrupção em sua estrutura. Trata-se de crime hediondo sob a concepção da ética, embora não esteja assim definido no Código Penal, pois suas conseqüências têm impacto direto na vida das pessoas. O dinheiro ilícito com o qual se locupletam políticos, ocupantes de cargos públicos, membros de partidos, fornecedores envolvidos e intermediários é roubado das crianças famintas, dos idosos com aposentadoria indigna, dos doentes nas filas dos hospitais, dos adolescentes abandonados, dos empresários, trabalhadores e cidadãos de bem, que pagam impostos altos e nada têm em troca do Governo Federal. Diante dessas mazelas, causa ainda maior indignação a justificativa do PT, de que as denúncias são motivadas pelo calendário eleitoral e por pressões da oposição contra a administração do presidente Lula. Esta argumentação é tanto ou mais desonesta do que as próprias práticas de pagamento de propinas a parlamentares e empréstimos ao partido com o aval de membros do governo. Depois de tentar a todo custo evitar a instauração da CPI e de buscar esconder a verdade, o PT procura agora dissimular as causas. Ora, retórica vazia não expia pecados. A seriedade dos discursos é imprescindível neste grave momento para que o brasileiro mantenha sua crença na democracia, pois "a palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade" (Rui Barbosa). Num gesto típico de desespero, o partido do governo também busca diluir e mitigar sua culpa, explorando denúncia de que o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), teria utilizado no passado modelo de arrecadação de fundos para campanhas políticas semelhante ao implantado pelo PT e o publicitário Marcos Valério nos porões do Palácio do Planalto. O PSDB, que tem sido exemplo de probidade nos governos que conquistou pela força do voto, não se intimida. Mais do que nunca, defende a rigorosa apuração de todas as denúncias e a punição exemplar dos culpados. O fato de surgirem acusações pontuais contra membros da oposição ao governo do PT não atenua a gravidade da leviana conduta desse partido. Doa a quem doer, o Brasil precisa ser passado a limpo, para que a ética seja marca indelével de sua democracia. Nota do Editor: Antônio Carlos Pannunzio, deputado federal, é presidente do Diretório Estadual do PSDB em São Paulo.
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