Pesquisa realizada na ECA sugere que os governos devem se preparar para melhorar a comunicação sobre temas de saúde com este segmento da sociedade, priorizando as palestras, onde os idosos interagem e tiram dúvidas
Nem rádio, nem televisão, nem jornal, nem cartilha, nem revista: é por meio de palestras que a população idosa prefere receber informações na área da saúde. A conclusão é da jornalista Devani Salomão, que pesquisou, em seu doutorado, quais os veículos de comunicação na área da saúde pública eram os mais adequados para informar a população acima de 60 anos na cidade de São Paulo. "Isso acontece porque o idoso, mesmo que seja analfabeto, tem a possibilidade de interagir com o palestrante e tirar suas dúvidas", conta Devani, que defendeu sua pesquisa no último mês de maio na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. A jornalista entrevistou 32 idosos, atendidos em Unidades Básicas de Saúde da Capital e também do Centro de Referência do Idoso, no bairro de São Miguel Paulista. Devani perguntou quais meios de comunicação eles preferiam para receber informação sobre saúde e o por quê. As respostas indicaram que as palestras tiveram a preferência de 20% deles; rádio, 16%; jornais, 12%; televisão, 12%; cartilhas 11% e revistas, 10%. Os entrevistados, com idades entre 60 e 75 anos, possuíam renda familiar de até cinco salários mínimos, sendo que a maioria deles (23) tinha até 4 anos de escolaridade. O grupo estudado era composto por pessoas casadas (63%), brancos (94%) e as mulheres representavam 78%. Idoso real X idoso idealizado Para realizar seu estudo, a jornalista tomou como base a cartilha do Ministério da Saúde "Viver mais e melhor - Guia completo para você melhorar sua saúde e qualidade de vida". O material havia sido distribuído basicamente em postos de saúde em todo o Brasil nos anos de 1999 e 2000. De acordo com a pesquisadora, era época da campanha de vacinação de idosos contra a gripe e havia um grande número deles internados. "Foi aí que o ministério teve a idéia de elaborar e distribuir 21 milhões de exemplares da cartilha", diz. Devani analisou o conteúdo da publicação e verificou a opinião dos idosos a respeito do material. A conclusão foi que o uso da cartilha como meio de divulgar informações para os idosos não foi eficiente. "A cartilha possuía um conteúdo que não era indicado para a população que usa o Sistema Único de Saúde (SUS), em sua maioria muito pobre e analfabeta", conta. "No aspecto gráfico, dificultava o entendimento porque apresentava um visual poluído, com muito texto, mistura de tipos de letras, sendo muitas delas pequenas." "Além disso, o idoso mostrado na cartilha está distante da realidade da grande maioria dos velhos do País. O idoso da cartilha é branco, de classe média urbana, morador do Sudeste e com valores culturais típicos dos moradores de uma megalópole", explica. "Criou-se um estereótipo e a cartilha foi feita com base nesse idoso idealizado." Dados do ano 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que existem no Brasil cerca de 8 milhões de idosos entre 60 e 69 anos. Para o ano de 2030, o IBGE indica uma projeção de mais de 21 milhões de pessoas nesta faixa etária. "Esse aumento da população idosa no País mostra a necessidade de os governos se prepararem a fim de melhor atender esta população", ressalta Devani.
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