A iniciativa é considerada a 27º melhor experiência do mundo no combate à pobreza por meio da biodiversidade. Atualmente, a cooperativa é fornecedora do Pão de Açúcar e dispensa intermediários para realizar vendas
O que antes era uma atividade extrativista sem planejamento ambiental ou cuidados sanitários, já é considerada uma das 27 melhores experiências do mundo no combate à pobreza por meio da biodiversidade. A Cooperostra, uma cooperativa de extratores de ostra da cidade de Cananéia, no litoral Sul de São Paulo, obteve o reconhecimento durante Conferência Rio + 10 (2002), em Johannesburg (África do Sul). "O título foi concedido pela Iniciativa Equatorial, projeto ligado ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)", conta Tatiana Rogovschi Garcia que analisou a evolução da cooperativa (desde sua criação em 1997) em sua dissertação de mestrado. A pesquisadora considera a iniciativa um modelo único de desenvolvimento de uma comunidade, principalmente por propiciar capacitação profissional e participação democrática das pessoas em um objetivo coletivo. "Atualmente, a Cooperostra tem certificado do Serviço de Inspeção Federal (SIF), dispensa intermediários para fazer suas vendas e é fornecedora da rede Pão de Açúcar", conta Tatiana, que apresentou seu estudo à Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP em Pirassununga. Os objetivos da pesquisa foram de "legitimar" as mudanças ao longo desses anos além de criar um modelo para avaliação de sistemas produtivos sustentáveis de base comunitária. O incremento de renda é um ponto de destaque: "Hoje, aqueles cooperados que participam efetivamente da cooperativa, conseguem ganhar mais produzindo menos. Antes o maior volume das vendas para os atravessadores (intermediários) era de ostras desmariscadas, aquelas pequenas, sem concha e proibidas por legislação, pelo tamanho e por medida de higiene", conta a pesquisadora. "Os atravessadores pagam muito pouco pela dúzia da ostra. Atualmente, os cooperados vendem por mais que o dobro do valor para a cooperativa". Segundo Tatiana, os cooperados tiveram suporte técnico de qualidade (Instituto de Pesca, Fundação Florestal) como de projetos do Ministério do Meio Ambiente, do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (FUNBIO), de ONGs e empresas privadas que estimam ao todo um investimento em torno de R$ 640 mil nos últimos sete anos. Autogestão O dinheiro, que é aplicado em compra e reposição de equipamentos, foi usado na construção de uma Estação Depuradora, instalação legalmente exigida que propicia à ostra, um animal filtrador, se purificar de impurezas. Os recursos também foram usados na organização da cooperativa, expansão de estruturas de cultivo, cursos de formação de cooperativa e de gestão para os cooperados, reformas, motor de barco e divulgação da marca. "Eles ainda contam com alguns apoios, mas a perspectiva é que caminhem para uma autogestão eficiente, dispensando financiamentos para se transformarem numa cooperativa de abrangência municipal", diz Tatiana. Entre as transformações encontradas na comunidade estão algumas não tão fáceis de serem mensuradas, de caráter mais subjetivo. Segundo a pesquisadora, o próprio presidente da cooperativa considera que antes os extratores eram vistos como mendigos, gente suja, que mexia no mangue. "Hoje, que possuem um sistema organizado da comunidade e da produção, são vistos de outra maneira e também se enxergam de outra forma. Melhoraram sua auto-estima e visão de mundo", garante Tatiana.
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